Representante do secretário-geral da ONU Ban Ki Moon nas Forças de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), o guatemalteco Edmond Mulet defendeu neste sexta, 26, em Porto Príncipe, mudanças no modelo de intervenção da comunidade internacional no país caribenho. Ele considera que a tragédia causada pelo terremoto do dia 12 de janeiro, que vitimou cerca de 250 mil pessoas, poderá servir como uma oportunidade para uma “revisão de consciência” sobre a atuação internacional no Haiti.
“Quando vemos a situação em que o País se encontra, creio que poderíamos ter feito as coisas de maneira diferente, de uma maneira melhor”, pontuou o diplomata, que é a principal autoridade civil da ONU no Haiti. Ele assumiu o cargo interinamente após a morte do chefe anterior, o tunisiano Heidi Annabi, e do segundo na linha hierárquica, o brasileiro Luiz Carlos da Costa, durante o terremoto.
Moulet explica que nos últimos 25 anos houveram oito intervenções de forças internacionais no país caribenho, incluindo missões dos Estados Unidos, da Organização dos Estados Americanos (OEA) e a atual coordenada pela ONU. Mesmo assim, o Haiti permanece com altos índices de miserabilidade: 80% da população vive com menos de US$ 2 por dia.
De acordo com o represnetante da ONU, a comunidade internacional não tem se empenhado para resolver aspectos básicos para a organização da sociedade e para a garantia da normalidade institucional no Haiti. “Como é possível um país em que até o registro civil não existe? Nasce um bebê e as pessoas não têm onde registrá-los”, quetiona.
Ele ainda aponta a falta de registros de propriedade como um entrave para a atração de investimento externo e para o desenvolvimento econômico do país. Além disso, defendeu a criação de uma sistema nacional de cooperativas para desenvolver e organizar a produção da agricultura local. “Creio que vamos seguir dando voltas em círculo, se não ajudarmos os haitianos a resolverem estes problemas”, afirmou
*O repórter é enviado especial de A TARDE ao Haiti e foi convidado a visitar o país pelo Itamaraty.