O Parlamento do Quirguistão aprovou hoje a proposta de fechamento de uma base aérea usada pelos Estados Unidos em seu território, numa decisão que pode prejudicar os planos do presidente norte-americano, Barack Obama, de enviar mais tropas para o Afeganistão. Os deputados quirguizes aprovaram por 78 votos a favor e apenas um contra o projeto de lei apresentado pelo governo para cancelar o acordo de concessão da base aérea de Manas, por onde passam mensalmente 15.000 soldados ocidentais e 500 toneladas de carga para o Afeganistão. Dois parlamentares se abstiveram de votar.
Agora a lei será submetida à sanção do presidente do Quirguistão, Kurmanbek Bakiyev, mas é improvável que isso não se confirme, uma vez que foi ele mesmo o autor do projeto de lei. Depois disso, uma ordem de despejo terá de ser entregue. A partir daí, os EUA terão 180 dias para desocupar a base aérea. "A decisão de fechar a base americana reflete o desejo do povo quirguiz", declarou o deputado governista Nurbyubyu Kerimova.
Bakiyev anunciou inesperadamente no início do mês que pediria ao Parlamento o fechamento da base de Manas. Ele se queixou que os EUA não estavam pagando o suficiente pelo aluguel da instalação. O anúncio foi feito em Moscou, logo depois de a Rússia ter oferecido ao Quirguistão um pacote de ajuda de US$ 2,15 bilhões. A Rússia negou que tenha pressionado o Quirguistão a fechar a base, mas os norte-americanos duvidam. "De uma parte, vocês dizem coisas positivas sobre trabalhar conosco no Afeganistão, mas ao mesmo tempo trabalham contra, porque a base aérea é muito importante para nós", disse o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, para os russos.
"Um Afeganistão estável e pacífico é algo do interesse de todos, incluído o povo quirguiz, e a base de Manas faz parte dos nossos esforços para tornar isso uma realidade", disse o porta-voz do Pentágono, Geoff Morrell. "De qualquer maneira, a base não é insubstituível e nós temos alternativas se elas se mostrarem necessárias", disse Morrell.
IncidentesUma série de incidentes recentes fizeram com que a presença dos militares norte-americanos no Quirguistão se tornasse muito impopular. No final de 2006, um soldado dos EUA em serviço atirou e matou o motorista de caminhão Alexander Ivanov, durante uma revista de rotina. Oficiais norte-americanos disseram que o caminhoneiro ameaçou o soldado com uma faca. Numa recente visita ao Quirguistão, o general David Petraeus disse que uma investigação sobre o assassinato foi reaberta.
Em outro incidente, um avião militar norte-americano KC-135 colidiu na pista da base de Manas com um avião civil Tu-154, da empresa aérea comercial do Quirguistão. Ninguém morreu, mas o Quirguistão disse que os EUA não compensaram financeiramente de maneira adequada a empresa pelos estragos provocados.
Enquanto o parlamento quirguiz vota a favor da expulsão, os EUA tentam finalizar detalhes para uma rota terrestre alternativa de suprimento às tropas que lutam no Afeganistão. Washington já recebeu permissão da Rússia e do Casaquistão para usar os territórios dos países na rota alternativa e os suprimentos poderão ser enviados por via ferroviária, mas os EUA ainda precisam obter a permissão do governo do Usbequistão, que faz fronteira com o Afeganistão.
O porta-voz da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), James Appathurai, disse que a decisão quirguiz é "inconveniente", mas "nós podemos absorvê-la". "Existem alternativas na cadeia logística da Otan e elas serão usadas", disse.