Edvaldo F. Esquivel, do A TARDE
A cidade é cortada pelo Rio Manazanres, afluente do Jarama que por sua vez
deságua no Tajo (ou Tejo, o rio português que banha a cidade de Lisboa). Note-se
que as origens urbanas de Madri remontam ao período da dominação romana na
Península Ibérica. Os estudiosos atribuem o nome primitivo da cidade ao latim
“matrice”. Um nome bem anterior, portanto, à chegada dos muçulmanos, referência
às águas abundantes do lugar. Com a dominação árabe, o nome deriva para
“Mayrit”, que significa “mãe das águas”, até fixar-se na grafia cristã e latina
“Matrit”.
No século IX, o emir Muhammad I, filho de Abderramán II, consciente de
sua privilegiada situação geográfica, transforma o povoado numa fortaleza para
defender Toledo dos ataques cristãos. Mais tarde, porém, Madri acabou sendo
incorporada aos domínios cristãos de Castella y León, após a conquista de Afonso
VII, em 1083. No ano de 1202, assume foro de cidade, com a justiça designada
pela nobreza local. Os “ayuntamientos” só apareceriam sob o reinado de Afonso
XI. Em 1309, o rei Fernando IV celebra as cortes de Madri, na presença de filhos
e do arcebispo de Toledo.
A partir daí, a cidade torna-se sede das reuniões das
cortes de Castilla e não pára de crescer, equiparando-se em meados do século XVI
à universitária cidade de Alcalá de Henares. No entanto, foi durante a dinastia
dos Austrias que Madri teve sua fase áurea; confundia-se com a pujança imperial
da própria Espanha. A posição de capital definitiva do reino de Espanha
mantém-se na dinastia seguinte – a dos Borbón – ou mesmo durante as tumultuadas
experiências republicanas ou ditatoriais.
VOLTA POR CIMA – Hoje Madri
resplandece. A metrópole de 7 milhões de habitantes (a Espanha toda tem 44
milhões) passa ao visitante a impressão de estar em paz consigo mesma, com sua
história. Deduz-se que o longo período franquista só fez acalentar o sonho da
democracia, que volta “coroada” em 1975, com a ascensão do rei João Carlos I ao
trono espanhol. Nos contatos dos turistas com os espanhóis, eles sempre passam a
idéia de que a Espanha, não obstante as esporádicas – e sempre repelidas – ações
separatistas, hoje passa para o mundo um exemplo de modernidade e tolerância
respaldado no amplo desenvolvimento econômico, político e social da era do euro.
Isto a despeito das dificuldades iniciais.
RENOVAÇÃO URBANA – O grupo de
jornalistas brasileiros faz um “recorrido” pela parte antiga da capital,
acompanhado do guia Miguel Angel Sanches, do Centro Turístico de Madri. A
primeira tarde é para os primeiros contatos com a vida urbana da cidade. A
visita guiada parte do Hotel Liabeny (Calle Salud, 3) e segue pela Madri dos
Austrias (a partir do século XVI), que inclui rápida passagem pela Puerta del
Sol, Palácio Real, Gran Via, Paseo del Prado, Plaza Cibeles e Puerta de Alcalá.
A pujança arquitetônica e artística de Madri é visível. Miguel Sanchez aponta
alguns exemplares arquitetônicos do percurso a pé que têm a ver com a nova
dimensão política surgida no reinado de Felipe II. Época da construção de
grandes monumentos que até hoje são citados pelos historiadores como a “Madrid
de los Austrias”.
O século XVII também deixa sua marca na cidade, na arquitetura
de estilo neoclássico de palácios, igrejas e fontes. Aí surge a Madri
vanguardista, eternizada nas largas e extensas avenidas, grandes eixos
monumentais. Da Gran Via ao Paseo de la Castellana é uma sucessão de emoções
visuais. Lá se encontram alguns exemplares emblemáticos da arquitetura urbana da
época. Exemplo: a “Fuente de la Cibeles”, projetada pelo arquiteto Ventura
Rodríguez, em 1777, sob o reinado de Carlos III.
A fonte tem a exuberante imagem
esculpida em mármore branco da deusa da fecundidade montada num carro puxado por
dois leões. É complementada por duas outras praças com as fontes de Netuno e de
Apolo. A “Plaza de Cibeles” é toda monumental, destacando-se ainda o majestoso
Palácio das Comunicações, já uma obra de finais do século XIX. Retorno à “Puerta
del Sol”, construída no reinado de Carlos I, ponto de encontro de todo mundo,
por estar recheado de bares e restaurantes.
Circuito imperdível para turistas de
todas as idades. Aí se localizam dois símbolos típicos de Madri: a estátua do
“urso e o madronho”, de 1967, em bronze, e a estátua do rei Carlos III montado a
cavalo, no centro da praça, igualmente de bronze. Por fim, o guia Miguel lembra
que o prédio mais relevante da praça é o da Casa dos Correios, sede da
presidência da Comunidade Autônoma, surgido entre 1766 e 1768.