Nancy Pelosi, uma californiana liberal considerada uma das principais responsáveis pela vitória do partido Democrata na eleição parlamentar de novembro, se tornou na quinta-feira a primeira mulher a presidir a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos.
Os deputados seguiram a orientação das suas lideranças, e Pelosi foi eleita por 233-202 votos. Líder da então minoria democrata nos últimos quatro anos, ela é a mulher que mais alto chegou na história do país -- é a segunda na linha de sucessão do presidente Bush, atrás apenas do vice Dick Cheney.
"Este é um momento histórico para o Congresso e para as mulheres deste país", disse Pelosi, triunfal, após assumir a presidência. "É um momento pelo qual esperamos por mais de 200 anos".
O líder republicano na Câmara, John Boehner, entregou o poder aos democratas dizendo que a vitória de Pelosi representa "um novo marco na história norte-americana".
Pelosi, 66 anos, foi acusada pelos republicanos, durante a campanha eleitoral de 2006, de querer aumentar impostos, conter a guerra ao terrorismo e defender o casamento homossexual. Mas, na hora do voto, falou mais alto o descontentamento do eleitorado com a guerra do Iraque, e os democratas fizeram a maioria parlamentar pela primeira vez no governo Bush.
O presidente, que costumava ignorar ou mesmo zombar de Pelosi, agora terá de negociar com ela para não sofrer seguidas derrotas no Capitólio em seus dois últimos anos de mandato.
Pelosi disse que "a eleição de 2006 foi um apelo por mudança -- não meramente mudança no controle do Congresso, mas por uma nova direção para o nosso país. Em nenhum lugar o povo norte-americano teve mais clareza sobre a necessidade de uma nova direção do que no Iraque. O povo norte-americano rejeitou uma obrigação com uma guerra sem final à vista".
Para James Thurber, do Centro de Estudos Parlamentares e Presidenciais da Universidade Americana, Pelosi tem todas as condições de se sair bem "porque é uma construtora de consenso -- e uma ouvinte tanto quanto uma oradora".
Entre as prioridades democratas estão o aumento do salário mínimo, a redução dos juros no crédito educacional e o fim de vantagens fiscais para grandes empresas de petróleo. Pelosi promete levar esses temas a votação nas cem primeiras horas de sessões, a contar de terça-feira, depois de a Câmara adotar novas regras éticas.
"O verdadeiro teste não são as primeiras cem horas, mas os primeiros seis meses, e se o presidente vai abordá-la para trabalhar com ela e se os republicanos vão abordá-la para trabalhar com ela", disse Thurber.
Ela, por sua vez, já rejeitou as propostas de impeachment contra Bush devido à guerra do Iraque. Mas, junto com outros democratas, promete investigações sobre o conflito.
No plenário, Pelosi evocou sua infância, num ambiente católico e italiano de Baltimore, Maryland, onde aprendeu política com seu pai, prefeito da cidade que costumava ajudar eleitores que batiam à sua porta.
"Meus pais me ensinaram que o serviço público é uma ocupação nobre, e que tínhamos a responsabilidade de ajudar os necessitados", afirmou.
Pelosi foi eleita pela primeira vez para o Congresso em 1987, por sua cidade adotiva, San Francisco, onde criou cinco filhos ao lado do marido. Antes, ela havia sido presidente estadual do Partido Democrata na Califórnia.