O primeiro-ministro palestino, Ismail Haniyeh, do Hamas, disse neste domingo que ainda tem esperança de estabelecer um governo de união, rejeitando as declarações do presidente Mahmoud Abbas de que as negociações voltaram à estaca zero.
"Vamos retomar as consultas sobre a formação de um governo de união nacional, e acredito que já avançamos muito (na direção de um acordo)", disse Haniyeh a repórteres na Faixa de Gaza. "Há uma esperança real de que tenha sucesso."
Abbas planeja viajar a Gaza na segunda-feira ou na terça-feira para retomar as negociações, que ele congelou há uma semana, antes de ir a Nova York para participar da Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), afirmou o assessor Saeb Erekat.
Erekat disse que Abbas vai dizer ao Hamas: "Se vocês querem um governo de união, há exigências internacionais que precisam ser atendidas, e este é o único caminho para se formar um governo de união."
Abbas acusou Haniyeh e outros líderes do Hamas de terem rompido um acordo feito neste mês sobre um programa político para um governo de união, que incluiria o reconhecimento dos acordos de paz interinos com Israel.
Os palestinos esperam que a formação de um governo de união leve as potências ocidentais a relaxarem o embargo da ajuda, que aumentou a pobreza e a falta de lei em Gaza e na Cisjordânia ocupada.
O embargo da ajuda foi imposto quando o Hamas chegou ao poder, em março, para pressionar o grupo militante islâmico a aceitar três condições: reconhecer Israel, renunciar à violência e comprometer-se com os acordos de paz interinos.
Um rompimento nas negociações de união pode aumentar os conflitos entre facções rivais armadas leais a Hamas e ao Fatah, de Abbas. O Hamas venceu o Fatah nas eleições parlamentares de janeiro.
Em desafio direto a Abbas, quatro grupos militantes ameaçaram atacar qualquer governo palestino que reconheça Israel.
"Qualquer governo futuro que reconheça Israel e seu direito de existência será uma alvo legítimo para nós", disse Abu Abir, porta-voz dos Comitês de Resistência Popular. "Vamos lutar com todos os meios e vamos tratar isso como uma extensão da ocupação sionista." A declaração do grupo foi assinada também por outras três facções militantes do movimento Fatah contrárias às políticas de paz de Abbas.
OBSTÁCULOS
Yasser Abed Rabbo, dirigente da Organização pela Libertação da Palestina, liderada por Abbas, disse que a formação de um governo de união não será possível sem que o Hamas aceite os acordos de paz interinos, uma iniciativa árabe de paz e as resoluções da ONU.
"Caso contrário, o governo vai sofrer da mesma maneira que o governo monopolizado pelo Hamas sofreu. Todas as facções que vão participar do governo de união serão isoladas, da mesma maneira que o Hamas está agora", disse.
Washington ameaçou boicotar membros do Fatah que aderirem ao governo liderado pelo Hamas, caso o grupo não aceite as três condições.
Abbas, que se reuniu com o presidente dos EUA, George W. Bush, na ONU na semana passada, está sob pressão norte-americana para forçar o Hamas a fazer concessões.
Washington esperava que Abbas dissolvesse o governo liderado pelo Hamas, e não que aderisse.
Ghazi Hamad, porta-voz do governo liderado pelo Hamas, advertiu contra pré-condições para negociações sobre união e disse que o Hamas ainda está comprometido com o acordo feito com Abbas.
"Acredito que as condições internacionais não são aceitáveis para todos os palestinos e facções palestinas. O assunto deve ser debatido por todas as facções para tomarmos uma decisão final."
Em discurso na Assembléia Geral da ONU na quinta-feira, Abbas disse que "qualquer futuro governo palestino" vai honrar todos os acordos interinos de paz com Israel. Mas o Hamas disse que não vai participar de um governo que reconheça Israel.
No sábado, Abbas criticou o que chamou de "regressões" do Hamas.
"Infelizmente, estamos de volta ao ponto zero", disse Abbas em relação às negociações sobre o governo de união.