Quarenta e seis países reivindicaram neste sábado a criação de uma agência mais poderosa das Nações Unidas para lidar com os temas do meio ambiente, alegando que a sobrevivência da humanidade está em risco, mas os Estados Unidos, a China e a Rússia não assinaram o documento.
"Precisamos nos dar conta de que alcançamos um ponto sem volta e causamos danos irreparáveis", diz o texto batizado de "Chamado de Paris pela Ação", lido pelo presidente francês, Jacques Chirac, depois de uma conferência de dois dias na cidade.
Na sexta-feira, os principais especialistas em clima do mundo responsabilizaram a humanidade pelo aquecimento global e disseram que as temperaturas em elevação poderiam causar mais secas, ondas de calor e aumento do nível do mar por mais de mil anos mesmo se as emissões de gases do efeito estufa forem controladas.
"Estamos nos dando conta de que todo o planeta corre risco, que o bem-estar, a saúde, a segurança e a própria sobrevivência da espécie humana está em risco", afirmou Chirac, após discussões com políticos, cientistas, líderes empresariais e estrangeiros.
O apelo de Paris visa à criação de uma nova Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Uneo, na sigla em inglês), que lutaria contra ameaças como aquecimento global, escassez de água e extinção de espécies. O documento cobra "ação internacional maciça para enfrentar a crise ambiental".
O atual Programa Ambiental das Nações Unidas, com base em Nairobi, no Quênia, tem poderes considerados muito limitados.
O "Chamado de Paris" recebeu apoio dos países da União Européia, entre outros. No entanto, os Estados Unidos, a China, a Rússia e a Índia --os quatro maiores emissores dos gases do efeito estufa-- não estavam na lista distribuída pelo gabinete de Chirac. O dióxido de carbono vem principalmente da queima de combustíveis fósseis.
REUNIÃO
O Marrocos aceitou sediar a reunião de países a favor da criação da Uneo, contudo, como Chirac encerra em maio o seu mandato presidencial, ainda não está claro quem poderia liderar o movimento.
A organização proposta teria como modelo a Organização Mundial de Saúde e poderia ajudar a coordenar ações governamentais e a promover pesquisas e formas de compartilhar novas tecnologias.
Alguns delegados na conferência alertaram que a criação de uma nova burocracia não deve desviar o movimento da ação. Outros disseram que a nova organização pode, por exemplo, aprofundar a pesquisa científica.
"Nós gastamos muito mais dinheiro em pesquisa espacial do que em tentar desvendar a biosfera", afirmou Valli Moosa, da União pela Conservação Mundial.