Igor Shpektor, prefeito da cidade russa de Vorkuta, que abrigou alguns dos mais temidos campos de prisioneiros soviéticos, as gulags, pretende construir uma réplica e cobrar centenas de dólares de turistas por algumas noites de prisão. Ele está procurando investidores para sua proposta de reconstruir um dos campos de trabalho da era Stalin - completo com torres de vigia, arame farpado, cães de guarda e sopão. Ele acredita que há muitos "turistas extremos" dispostos a desembolsar pelo menos US$ 450 por três dias.
"Quero fazer um campo como os que existiam na época do Gulag", disse o prefeito. "Ali se obedeceria o mesmo regime vigente naqueles campos." Isso não significa que ele pretende usar visitantes como mão-de-obra escrava em minas de carvão ou para trabalhar ao relento com temperaturas abaixo de 40 graus Celsius - destino de muitas das mais de 1 milhão de pessoas enviadas aos campos de Vorkuta.
Shpektor lança a idéia como uma maneira de lembrar o passado trágico da cidade enquanto tira Vorkuta da modorra pós-soviética em que perdeu cerca de 80 mil moradores em uma década.
Muitas pessoas ficaram estarrecidas. "É uma blasfêmia, e isto é dizer pouco", disse Yevgeniya Khaydorova, co-diretora do ramo Vorkuta do Memorial, um grupo de direitos humanos que tem trabalhado para revelar a história do Gulag. Ela condenou o prefeito por promover seu projeto sem se importar com o que restou dos campos reais.
A grande maioria dos campos do Gulag foi demolida e abandonada, e o reconhecimento público deles é bem menor que o de campos de concentração nazistas como Auschwitz e Buchenwald, que se tornaram museus. A proposta de Shpektor não pára no campo recriado: ele sugere também a construção de um hotel cinco estrelas onde os que sofrerem no seu campo poderão se refestelar em seguida.
Anatoly Ushakov, que chefia o departamento de turismo interno da agência federal de turismo da Rússia, não faz objeção de princípio à idéia, mas adverte: "Não creio que seja economicamente viável para Vorkuta. É uma região muito remota e tem uma longa estrada até lá."
Mas Shpektor se aferra a seu sonho, mesmo admitindo que ele está longe de se concretizar. Por enquanto, está à procura de um investidor - US$ 1 milhão poderia cobrir a fase inicial, ele garante.