O ex-presidente iraquiano Saddam Hussein se irritou durante seu julgamento, numa corte especial em Bagdá, e ameaçou testemunhas curdas, levando o juiz a ordenar o corte do microfone dele. Saddam e seis de seus principais assessores no antigo governo são acusados de genocídio de mais de 180 mil curdos iraquianos durante uma campanha repressiva que incluiu ataques com gás, entre 1987 e 1988.
O clima ficou tenso no tribunal quando Abdul Ghafour, uma das vítimas da repressão à minoria curda, falava sobre a recente localização dos restos de sua mãe e irmã numa vala comum a 200 quilômetros de seu povoado, no norte do Iraque.
Saddam o interrompeu para defender sua política de repressão dos rebeldes curdos durante a guerra contra o Irã (1980-1988). Na época, parte dos rebeldes curdos se aliou ao Irã. "Vocês são agentes do Irã e do sionismo. Esmagaremos suas cabeças", gritou Saddam. Ghafour não se intimidou: "Felicitações, Saddam Hussein. Agora você está numa jaula", reagiu o curdo, que afirmou ter-se salvado, com outros parentes, fugindo para o Irã enquanto as tropas iraquianas bombardeavam seu povoado.
Depois que o juiz cortou o microfone, Saddam protestou: "Quando você prende um leão, qualquer covarde pode cutucar com um pau", disse ao juiz. Ele pode ser condenado à morte nesse processo, aberto este ano, e num outro iniciado em 2005, em que é acusado da matança de xiitas em 1982. O veredicto do primeiro julgamento está previsto para outubro.