Um oficial nigeriano da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) foi morto a tiros ontem à noite em Porto Príncipe, na tensão vivida no país pelas violentas manifestações dos últimos dias pela alta dos preços dos alimentos. Os protestos culminaram com a destituição do primeiro-ministro Jacques Edouard Alexis, também ontem.
O militar nigeriano foi retirado de um veículo nos arredores de um movimentado mercado e executado, segundo apontaram oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU). O incidente é o primeiro assassinato na forma de execução de um soldado da ONU desde que a missão chegou ao país. em 2004.
O governo do Haiti tinha esperanças de que o subsídio ao arroz e a demissão do primeiro-ministro pelo Parlamento acalmaria a fúria da população com a alta dos preços dos alimentos que geraram dias de protestos violentos e saques pelo país. Contudo, na noite de ontem, o capitão Nagya Aminu, de 36 anos, levava alimentos para sua unidade quando foi arrancado de seu carro e executado com um tiro na nuca, segundo o porta-voz da polícia da ONU, Fred Blaise. Dois homens haitianos foram detidos para interrogatório, incluindo um jornalista de uma TV local que estava cobrindo o incidente.
Em nota, a Minustah condena "firmemente" o assassinato e afirma que perseguirá os autores do crime com determinação. Antes do crime, o comandante militar Major General Carlos Alberto dos Santos Cruz disse para a imprensa que a paz estava de volta ao país, com algumas atividades de transporte e pessoas voltando a trabalhar.
Quando a reportagem da
Associated Press chegou ao local, pouco após o crime, várias tendas do mercado dos dois lados da rua estavam em chamas. Muitas das pessoas gritavam "Abaixo a Minustah". O ataque ocorreu horas depois de o Parlamento ter aprovado uma moção de censura contra o premiê Jacques Edouard Alexis. O presidente Rene Préval, que mais cedo anunciara planos de cortar o preço do arroz, disse que procuraria um substituto para Alexis, no cargo desde 2006.
ExpulsãoUm senador da oposição, Youri Latortue, disse que os deputados expulsaram o primeiro-ministro porque ele não aumentou a produção de comida e recusou-se a marcar uma data para a partida dos membros das Nações Unidas. "Eu acho que irei satisfazer o povo", disse ele após 16 senadores - de 27 - votarem para removê-lo do cargo.Alexis, de 61 anos, já havia ocupado a chefia de governo no primeiro mandato de Préval, entre 1999 e 2001. O presidente disse que se reunirá com os líderes do Senado e da Câmara Baixa para formar um novo governo.
Préval anunciou que irá usar o dinheiro da ajuda internacional para subsidiar o preço do arroz. Ele também disse que pedirá ajuda à Venezuela, especialmente para o fornecimento de fertilizantes. Globalmente, os preços dos alimentos subiram 40% desde meados de 2007. O Haiti, onde a maioria da população vive com menos de US$ 2 por dia, está sendo particularmente afetado, pois importa quase toda sua comida. Os fazendeiros haitianos lutam para conseguir produzir algo em um solo dizimado pela erosão.