Ao anunciar a própria incapacidade de gestão e a constatação de quebradeira, o presidente pode afastar investidores | Foto: Sergio Lima | AFP
A espontaneidade tem o dom de evitar a máscara do pensamento, tornando a pessoa capaz de dizer aquilo mais próximo à mente, sem subterfúgios ou escamoteamentos, como tem sido uma característica do presidente Jair Bolsonaro. Ao afirmar o chefe de Estado o fato de o país estar quebrado, no entanto, implica efeitos negativos para a cidadania e a comunidade internacional, uma vez ser o Brasil símbolo de país capaz de tornar-se potência econômica considerando suas dádivas.
Embora seja um dom a capacidade de filtrar ao mínimo a sua narrativa, pois passa a seus seguidores o valor sinceridade, um presidente de uma república gigantesca como o Brasil pode tornar-se responsável, a partir de suas narrativas e efeitos delas gerados. Exceto se a intenção é livrar-se de apoiar a cidadania, em seu momento mais difícil, pois um país quebrado não tem como equilibrar-se, o presidente poderia usar seu discurso para estimular a economia e motivos não faltariam nesta seara.
Ao anunciar a própria incapacidade de gestão, acrescida da constatação de quebradeira, o presidente pode afastar investidores, se formarem crença na sua confissão de incompetência. O discurso destoa de posições apresentadas pela equipe econômica, convicta na recuperação, capaz de carrear resultados para ampliar a arrecadação de impostos e a atração de parceiros comerciais.
Estaria correto o presidente, se citasse como exemplos de dificuldade a implementação de reformas importantes a fim de garantir fôlego em próximos dois anos, acrescido a um projeto de desenvolvimento. Inaceitável é confessar seu atestado de incompetência, cujo efeito pode ser a impossibilidade de aquisição de insumos para efetiva campanha de vacinação e apoio à população por estar o país em suposta situação falimentar.
A surpreendente declaração produz a sensação de prescindir o presidente eleito de atributos dos quais todo gestor de sua estatura teria necessidade: planejamento, hierarquia de prioridades, e a defesa daqueles de onde emana o poder de um primeiro mandatário.