Para Rui Costa eleição de Aécio Neves prejudicaria a Bahia
Governador eleito no primeiro turno, Rui Costa está empenhado na reeleição da presidente Dilma Rousseff não só por ela ser do seu partido e representar o projeto político petista. É que ele acha que, caso Aécio Neves seja o novo presidente, a Bahia seria discriminada pelo governo federal, e isso afetaria a transferência de recursos da União para o estado.
O senhor pretende promover algum tipo de ação para os primeiros cem dias de governo?
Não e não vou fazer plano de 100, 90, 120 dias. Primeiro porque não acredito nisso. É um factoide. Eu pretendo governar com metas claras e objetivas, prestando contas à população. Se fizer isso, basta, não precisa ficar fazendo factoides. Meu planejamento agora é primeiro dedicação exclusiva neste momento na campanha de Dilma, até o dia 26. Depois vou tirar duas semanas para descansar e vou deixar em andamento um grupo de trabalho para levantar algumas demandas que eu quero para, quando eu voltar, montar a transição. Ou seja, vou deixar algumas pessoas encarregadas de fazer levantamentos de projetos, ideias, propostas. Quero modificar algumas estruturas do governo.
Quais estruturas?
Áreas que tenham sombreamento. Por exemplo,a agricultura familiar. Tem três ou quatro áreas que atuam sobre a área da agricultura familiar. Acho que isso pode ser simplificado. Então, eu vou buscar identificar as áreas que podem ser simplificadas, que têm duplicidade de trabalho e otimizar gastos em área-meio para sobrar dinheiro. Vou deixar encomendadas algumas propostas sobre as quais eu quero me debruçar e já enviar um projeto de lei para a Assembleia Legislativa, ainda neste ano, com as modificações para o dia 1º de janeiro. Vou combinar com o governador (Jaques Wagner). Ele concordando, vamos enviar esse projeto de lei.
O senhor pretende aproveitar secretários do governo Wagner na sua administração?
Não gostaria de declarar se vou ou não aproveitar, agora. Isso porque, se eu disser que vou aproveitar, todo mundo vai ficar especulando quais são os que vou aproveitar. Se disser que não vou, todos imaginarão que estão demitidos previamente. Não pretendo fazer nenhum anúnciosobre composição do governo antes do mês de dezembro, para evitar essas especulações. Pretendo anunciar quase tudo de uma vez.
Como o senhor está esperando o ano de 2015 em termos econômicos?
Há sinais no último trimestre (de 2014) da economia brasileira se recuperar. A economia mundial mostra sinais lentos, mais graduais de recuperação. A economia americana tem lentamente se recuperado, a europeia também. Eu diria que o Brasil cumpriu uma etapa em que ele podia dar passos mais largos com sua própria economia. Agora, o ritmo passa a depender um pouco das outras economias. Houve um equilíbrio com o mercado interno que foi alavancado com distribuição de renda, ocupando um nível de endividamento que as famílias poderiam ter. Esse endividamento chegou quase ao teto e o de distribuição de renda, embora não tenha atingido o teto, avançou bastante. Mas não se pode dar avanços rápidos nessa distribuição, enquanto a economia não crescer. O crescimento do Brasil, agora, está mais vinculado à economia mundial, e eu diria à economia regional, da América Latina. Mas tenho uma expectativa positiva, minha crença é que o pior da crise mundial já passou e o Brasil tende a se recuperar lentamente.
O estado é muito dependente das transferências nacionais. Embora o senhor confie na reeleição da presidente Dilma Rousseff, pode dar também a vitória de Aécio Neves. O senhor acha que haverá um republicanismo do PSDB em relação aos governos do PT como o da Bahia?
Não acho que haverá. Por isso estou tão empenhado na vitória de Dilma. Não é só republicanismo do ponto de vista da perseguição. É também do conceito e dos valores deles. Eles nunca enxergaram o Nordeste, o Norte, e eu diria também o Centro-Oeste, como focos de desenvolvimentos em diversas áreas. Lembro da declaração (do ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso segundo a qual o Nordeste era lugar de agricultura e turismo. Portanto não acredito num governo de Aécio jogando peso no desenvolvimento do Nordeste.
Nesse caso o senhor teria que lutar muito para garantir os investimentos previstos para serem aplicados na Bahia pelo governo federal?
Vamos lutar. Evidente que prefiro nadar com onda a favor, por isso estou empenhado na reeleição da Dilma, porque com Aécio é nadar com a onda contrária. Veja, não sei porque ele já anunciou seu eventual ministro da Fazenda (Armínio Fraga). Ao fazer isso sinalizou qual vai ser a política econômica dele. O ministro tem um perfil de contenção de gastos, de despesas com servidores, então deve ter arrocho salarial. O Armínio já declarou que considera o salário mínimo muito alto, isso significa que ele vai interromper essa valorização dos últimos dez, doze anos, o que impacta diretamente o Nordeste. A economia do Sul não é tão vinculada a salários mais baixos, já o Nordeste, sim. Então ao dizer que não vai valorizar tanto o mínimo, ele impacta as economias menos desenvolvidas do país.
São muitos contratos de obras federais, como a linha 2 do metrô de Salvador, a Ferrovia Integração Oeste-Leste...
Não estou dizendo também que será um desastre, o caos (eventual vitória de Aécio). Temos muitas obras contratadas. Só repito que, do ponto de vista econômico, é ruim para a Bahia. Ao não valorizar a política de transferência de renda, o Nordeste, o Norte e o Centro-Oeste perdem dinamismo nas suas economias. A própria arrecadação dos estados é dependente dessa dinâmica. Se eu tenho impacto forte no ritmo de crescimento da economia do Nordeste, vai se refletir na nossa arrecadação.
Qual a situação da Bahia em relação ao setor previdenciário dos servidores?
O estado vive uma situação bastante preocupante até porque (o ex-governador) Paulo Souto complementava a previdência estadual em 2006 com algo em torno de R$ 400 mil por ano. Nós devemos estar complementando em 2015 em cerca de R$ 2,5 bilhões. Ou seja, precisamos tirar do caixa esse valor, que é muito dinheiro. É o nosso principal problema. É muito mais grave que a questão da dívida com a União. Os estados precisam encontrar uma solução para isso.
Nem o adiantamento dos royalties do petróleo vai resolver?
Servem apenas para você resolver o problema de um ou dois anos, mas não resolve o problema estrutural do estado. Somente Rio e Espírito Santo (estados produtores do pré-sal) conseguiram resolver a questão da previdência vinculando seus royalties à previdência. Na Bahia, o problema se agravou porque Paulo Souto reprimia muito a concessão de aposentarias. Tinha gente na fila há quatro anos para se aposentar, e isso gera uma pressão muito grande.
O senhor, afinal, vai pagar a URV dos servidores?
O que nós vamos fazer é buscar que o Supremo Tribunal Federal bote um ponto final nisso. Não podemos ter pagamentos por vários critérios a depender da categoria de funcionário. Esse critério único quem vai dar é o STF. O governador Jaques Wagner esteve no início do ano do Supremo pedindo celeridade no julgamento. É preciso entender que se cria uma grande expectativa em relação a isso. As pessoas ficam achando que vão ficar ricas se receber a URV. Se for aplicar os critérios usados no julgamento sobre a URV dos servidores da Paraíba, que me parece foi o único apreciado pelo STF, uma parcela razoável dos funcionários daqui não tem nada a receber. É que os servidores recebem por lote em determinados dias. A conversão promovida pela URV depende do dia que o servidor recebeu o salário. Explico sempre às pessoas, um governador não pode decidir pagar a José 50 e a João 30. Se ele fizer isso, pode estar cometendo improbidade administrativa. Só pode pagar após decisão judicial. Quero que essa sentença ocorra. É uma pedra no sapato. Nós precisamos fazer um trabalho motivacional com os servidores, e para isso é preciso resolver essa pendência.
Qual foi o pior momento da campanha, para o senhor?
Foi o momento das calúnias (do Instituto Brasil). Envolve a família, tenho filho adolescente na escola, e isso é ruim. Repito sempre, só tenho dois patrimônios na vida, um apartamento que comprei com 240 prestações, e minha história de vida. Criou um mal-estar.
Por essa razão o senhor deve continuar com os processos contra quem o acusou de envolvimento com o Instituto Brasil?
Não vou retirar, nem fazer acordo com nenhum deles. Não gosto desse instrumento na política. Eu tinha armas para atacar, também, a família do adversário e preferi não fazer. Mas chegou um dado momento que avisei para parar, pois não iria restar outra alternativa para mim. Ainda bem que consegui direitos de resposta e um documento do Ministério Público de nada consta nesse processo. Não se pode usar o poder da mídia para difamar os outros numa campanha política.
A campanha presidencial neste segundo turno na Bahia será mais dura para o PT porque agora os adversários não estão mais escondendo o nome de Aécio Neves...
É curioso. Os mesmos deputados que usam o adesivo (de Aécio) agora não usavam no primeiro turno. Tenho uma coleção de "santinhos" no meu celular e todos os deputados da oposição usavam o 13 (número do PT) para presidente. Quando saí do debate do primeiro turno perguntei aos deputados do DEM e PSDB: vocês ligaram para Aécio para se desculpar? Porque nenhum de vocês está usando o 45 (número de Aécio). Nem os do PSDB, partido do candidato à presidência. Isso é enganar o eleitor. Por isso defendo o voto vinculado, de cima a baixo no mesmo partido.
O que os baianos podem esperar do novo governador a partir de janeiro?
Podem esperar alguém com uma sensibilidade humana muito forte, com vontade, obstinação de trabalhar grande, pois sempre fui uma pessoa dedicada, a vida inteira. Vou querer modernizar o estado na infraestrutura, logística, na capacidade de atrair empresas, desenvolvimento e empregos. Quero trabalhar fortemente para melhorar a vida das pessoas. Entendo que o elemento transformador e o pilar básico de uma democracia está na educação. O estado democrático tem que ser capaz de oferecer educação de qualidade para todos.