Promovido pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e Ordem dos Advogados da Bahia (OAB-BA), o evento foi transmitido pela TVE
A ausência de Bruno Reis (DEM) foi um dos principais assuntos entre os candidatos à prefeitura de Salvador presentes no debate promovido pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI) em parceria com a Ordem dos Advogados da Bahia (OAB-BA) nesta quarta-feira, 4.
De acordo com sua assessoria, o democrata não compareceu ao debate por conta de "um conflito de agenda" devido a um encontro com líderes religiosos do segmento evangélico de toda a cidade “que teria sido programado há mais de um mês". Justificativa que não foi aceita pela maioria dos presentes, que atacaram a ausência do candidato em suas falas ao afirmar que o mesmo teria “fugido” para evitar questões sobre a atual gestão. “Seria muito importante que o candidato fujão estivesse aqui. Ele mentiu no debate anterior e agora foge”, criticou o candidato Hilton Coelho (PSOL).
O não-comparecimento do democrata também foi atacado por Olívia Santana (PCdoB) “É um desrespeito. Ignorou solenemente duas grandes instituições da luta democrática da Bahia” e pelo candidato Cezar Leite (PRTB) que ironizou ao comparar a abstenção com um longa-metragem animado. “Ele fugiu. Lembra até a história da Fuga das Galinhas. Ele sumiu hoje não querendo discutir assuntos de grande importância para Salvador”, atacou.
O evento, que marca o último debate da campanha eleitoral deste ano, contou com os outros oito candidatos registrados no pleito e jornalistas convidados pelas entidades, que participaram do primeiro bloco de perguntas. O grupo A TARDE foi representado no evento pelos jornalistas Rodrigo Aguiar e Levi Vasconcelos.
No primeiro bloco, marcado por falhas técnicas e com a presença dos jornalistas, o debate começou morno. Questionada sobre declaração onde havia dito “esperar mais apoio do governador Rui Costa”, a candidata Olívia Santana afirmou que espera “reciprocidade” do gestor após todos os blocos terem trabalhado para sua eleição nos pleitos passados.
“Temos cinco candidaturas na base e nosso líder maior deve dar atenção a todos os candidatos e candidatas do nosso bloco. Reciprocidade é um elemento fundamental na atuação política e todos nós esperamos isso do governador”, afirmou Olívia que voltou a dizer que acredita na união de toda a base em torno de seu nome no segundo turno. Algo que foi criticado por Cezar Leite (PRTB), que ao ser sorteado para comentar a resposta da candidata comunista, aproveitou para atacar o governador.
Em seguida, o candidato Hilton Coelho, ao ser questionado sobre a alta do desemprego na cidade, criticou a gestão do prefeito ACM Neto e do vice e candidato Bruno Reis, a quem atribuiu os índices. “As duas últimas administrações do prefeito ACM Neto, com participação de Bruno Reis, disseram que iam resolver o problema do desemprego e foi de 7,2 para 17%. É preciso que se mude a política econômica da cidade. Ter um prefeito que se coloque contra essa política econômica e não persiga o povo trabalhador”. Algo comentado pelo candidato do PCO, Rodrigo Oliveira, que aproveitou para ligar a imagem de Bruno Reis ao presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido). “Enquanto tiver o governo Bolsonaro, será impossível resolver o problema do desemprego em Salvador. Qualquer candidato que apresentar proposta, na minha opinião, é demagogia. Por isso o PCO tem como ponto central nessas eleições derrubar Bolsonaro”, atacou.
A gestão de Neto também foi alvo de críticas de Cezar Leite, que chegou afirmou que “o prefeito quebrou Salvador ao longo desses 8 anos beneficiando apenas as construtoras”, ao comentar sobre o orçamento municipal e do Pastor Sargento Isidório (Avante) que criticou a alta do IPTU na cidade. “O que o prefeito está fazendo é desnecessário. Falar sobre o arrocho do IPTU é importante. Tem gente que se suicidou por causa disso. O vil metal foi posto acima da dignidade das pessoas”, em tom acompanhado também por Hilton. “A inflação cresceu 56% e o prefeito aumentou 4 vezes mais. Isso afugentou o mercado informal. Não há um grande empreendimento em Salvador. Não há construção civil nesta cidade”, afirmou
Um dos momentos mais acalorados do debate aconteceu justamente entre Hilton Coelho e Cezar Leite após mais uma crítica do conservador ao prefeito. Após Leite ter voltado a falar dos índices de desemprego na cidade, o psolista foi ao ataque e questionou os motivos para Cezar não ter feito oposição durante seu mandato na Câmara Municipal. “O fervor da sua crítica à gestão do prefeito ACM Neto passou completamente despercebida na sua ação parlamentar. Vi você na tribuna defendendo todas as políticas perversas da gestão como as ações por exemplo contra os moradores de rua. Você não se pronunciou em nenhum momento contra isso tudo”, atacou Hilton que foi rebatido por Cezar. “Você falta com a verdade. Votei a favor dos servidores públicos sendo o único da base a fazer isso. Combato ostensivamente as práticas do prefeito e vou reformular muitas delas”,
Outro momento de tensão veio após o candidato do PCO, Rodrigo Pereira, criticar o governo federal. “A minha candidatura não tem ilusão com as eleições. A nossa participação é pra denunciar o golpe que acontece no Brasil. Salvador é uma cidade quebrada e para resolver isso precisa de um governo minimamente progressista”, afirmou o candidato da Causa Operária. Sorteada para comentar sobre a opinião, a candidata Olívia Santana afirmou que também é “uma candidata de oposição ao presidente Jair Bolsonaro”, o que foi rebatido por Pereira na tréplica. “Como fazemos isso sendo que a senhora tem um candidato a vice do PP que é nacionalmente da base de Bolsonaro?”, se referindo ao candidato a vice-prefeito Joca Soares (PP). “O PP, que é vice da candidata Olívia Santana, é o articulador do agronegócio da Bahia. É um dos maiores grileiros da Bahia, senão do Brasil”, atacou Rodrigo.
Após se colocar como “verdadeiro coração da esquerda” e dizer que não seria “uma candidata fabrica às vésperas do período eleitoral” em peças da sua campanha, a candidata Olívia Santana respondeu a provocação feita pelo jornal A TARDE sobre se a candidatura da Major Denice, candidata do PT, não seria uma candidatura de esquerda. “O nosso horário eleitoral é usado para falar de mim. Tenho 30 anos de militância. Na luta dos trabalhadores, na luta pela educação. Aprendi a fazer política no movimento estudantil. Na disputa eleitoral é importante que saibam da onde vem os candidatos e tenho essa relação muito forte com os setores de esquerda”, afirmou. Na réplica, a Major Denice também fez questão de enaltecer sua candidatura a alfinetou a aliada. "Que bom que vivemos neste país que todo cidadão que queira possa se candidatar. Tenho 30 anos de serviço único. Sou essa mulher que trouxe todas as pautas de ideologia que agregam meu partido”.
Confrontos não tão diretos
No bloco dos confrontos diretos, onde os candidatos faziam a pergunta para os seus adversários, o encontro foi novamente marcado, assim como no debate da Band Bahia, pelas tabelinhas entre os candidatos da base do governador Rui Costa (PT) nas críticas à gestão ACM Neto (DEM).
Fugindo um pouco dessa rotina, o candidato Cezar Leite (PRTB) lembrou escândalos de corrupção em governos petistas, como o Mensalão e o Petrolão, para atacar a candidata Major Denice (PT) e questionar se seria “esse modelo de gestão do PT” que a candidata levaria para a cidade e se ela seria uma “inocente útil ou é cúmplice do grupo”. Em resposta, Denice foi em defesa ao partido ao afirmar que compõe o quadro daquele que revolucionou a vida dos brasileiros. “Estou no maior partido de esquerda da América Latina e que revolucionou a vida dos brasileiros e brasileiras. É este o partido que estou. Ainda que tentem destruir esse legado, não conseguirão”, disse. Ao ser sorteado para comentar sobre o embate, o candidato Hilton Coelho foi ao ataque contra Cezar, ainda que tenha feito críticas às gestões do PT. “Quem ouviu a pergunta do candidato percebeu o quão racista e machista foi a pergunta. Esse candidato além de subestimar as mulheres é um candidato que aprova a reforma da previdência como Bolsonaro, a quem ele apoia. Nós fomos contra essa assim como fomos contra a reforma do governador Rui Costa, que é similar”, afirmou.
No resto do tempo, as tabelinhas deram a tônica deste segundo bloco. A própria Denice protagonizou uma ao questionar o candidato Bacelar (Podemos) sobre a situação da mobilidade urbana em Salvador. Segundo a mesma, as gestões Rui e Wagner revolucionaram o setor na cidade enquanto a gestão municipal, com o Prefeito ACM Neto à frente desde 2012, tem cometido “descaso com a qualidade de vida da nossa população por oito anos”. Denice deixou claro ainda que a questão seria feita para o candidato Bruno Reis (DEM), ausente do debate. “Temos que reconhecer os grandes avanços em mobilidade feito pelos governos Wagner e Rui Costa. Salvador pulou de uma das piores para uma das melhores capitais em mobilidade”, afirmou Bacelar que também é um dos candidatos da base governista. “A atual administração municipal não renovou a frota de ônibus, em conivência com os empresários, e de pirraça evita que o governo tenha celeridade na solução de problemas. Só para o VLT a prefeitura exigiu 12 alvarás de licença. É pirraça de garoto”, categorizou.
Ao comentar sobre o confronto, o candidato do PCO, Rodrigo Pereira, aproveitou para criticar o mote "cuidar de gente" que aparece nos materiais de três dos postulantes nesta eleição: Olívia Santana, Major Denice e Pastor Sargento Isidório. "Convocamos a classe trabalhadora para se organizar. O povo brasileiro não precisa de ninguém que faça um dengo. Precisamos de emancipação. É necessário falar disso nessa conversa de cuidar de gente.
Em seguida, Bacelar também fez linha de passe com o candidato Celsinho Cotrim (PROS) ao tratar da situação dos ambulantes e do comércio informal na capital. Ao ser questionado pelo deputado federal sobre as medidas pensadas para este setor, Cotrim agradeceu e afirmou que busca uma gestão "pedagógica e não punitiva" ao se referir a atuação dos "Rapas", que são equipes de fiscalização da Prefeitura que confisca materiais e inibe a atuação dos comerciantes informais. “A existência dos rapas para tomar mercadoria, machucar e maltratar os trabalhadores de nossa cidade é um absurdo. A gestão de Lídice e João Henrique foram pedagógicas enquanto agora nós temos punição. Guarda municipal arrastando as pessoas das praias e os rapas voltando com toda a força. Vamos tratar de forma digna o trabalhador informal”, afirmou.
Na tréplica, Bacelar protagonizou um momento musical ao fazer um paralelo com a música Camelô do artista baiano Edson Gomes. “Foi isso que o prefeito ACM Neto fez com essas pessoas. Pessoas que não tem ninguém para apelar. Eu como prefeito, não farei o que ACM Neto faz”. Tom compartilhado pela candidata Olívia Santana, que foi sorteada para comentar a questão. “Temos compromisso de humanizar o trabalho informal em Salvador. As filas horrendas e dantescas em tempos de carnaval para fazer um cadastramento que a prefeitura já tem. Precisamos investir nessa qualidade”, ponderou.
Apesar da realidade que vivemos, a pandemia do Covid-19 acabou sendo um tema pouco explorado no embate. Um dos únicos momentos que transitaram em torno do assunto se deu após questionamento do Pastor Sargento Isidório ao candidato Cezar Leite sobre o combate ao vírus na cidade e as medidas para conter a crise econômica decorrente. O prefeito ACM Neto e o governador Rui Costa foram os responsáveis pelo fechamento do comércio e já foi provado que não baixa em nada da curva. Quem está na periferia. Se não fosse o auxílio do presidente Bolsonaro, estaria na pior. A prefeitura mal deu auxílio para alguns. O prefeito não fez o tratamento precoce. Quer fazer a vacina obrigatória e sou contra. Próximo ano se você quer um prefeito que vai incentivar o comércio e dar o tratamento, você tem que votar em mim”, afirmou. Na réplica o Isidório afirmou que está lutando, na Câmara dos Deputados, para que o auxílio seja mantido. Já o candidato Celsinho Cotrim, que ficou encarregado de comentar, condenou a politização sobre o tema da pandemia, como tem sido feita pelo presidente Jair Bolsonaro, e afirmou que as medidas de combate devem ser seguidas de acordo com sua eficácia. “O meu governo é tubaína, o meu governo é cloroquina não terá. Deixa para eles lá, essa velha política. Vamos combater a pandemia”, afirmou o candidato do PROS.