O comando da campanha à Presidência do tucano Geraldo Alckmin decidiu adotar duas táticas para tentar melhorar o desempenho do candidato. Em primeiro lugar, produzir notícias diárias que possam ganhar espaço no
Jornal Nacional, da TV Globo. Em segundo, intensificar a campanha no Nordeste, não só com o candidato à Presidência mas também com os que disputam governos e vagas na Câmara e nas Assembléias.
A atenção ao
Jornal Nacional foi considerada prioritária depois que a Globo passou a dar grande espaço a todos os candidatos, independentemente do tamanho do partido. O conselho político de Lula concluiu que quem melhor soube aproveitar a oportunidade foi a senadora Heloísa Helena (AL), candidata do PSOL. Segundo pesquisa Datafolha divulgada anteontem, ela pulou de 6% para 10% na preferência dos eleitores. "A senadora soube levar mais emoção para a TV", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Foi ele quem fez a sugestão para que o Jornal Nacional fosse transformado em prioridade, durante reunião do comando de campanha que marcou a inauguração do comitê central da candidatura, em Brasília. Dois câmeras de TVs autorizados a gravar as imagens da reunião flagraram a discussão.
Nos registros captados, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), dirige-se aos demais e diz: "É preciso mobilizar para entrar no Jornal Nacional... Acompanhar o roteiro nos Estados... O Álvaro tem razão: nosso objetivo se chama Jornal Nacional. Quem ganhar no Jornal Nacional ganha a eleição."
Neste momento, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), observou, baixinho, que a reunião estava sendo filmada: "Cuidado. Tem imprensa." Em seguida, os dois câmeras foram convidados a deixar a sala.
Aprovaram a sugestão de Dias, além do próprio Alckmin e de Bornhausen, os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM), Heráclito Fortes (PFL-PI), Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), Lúcia Vânia (PSDB-GO) e Antero Paes de Barros (PSDB-MT), os deputados Rodrigo Maia (PFL-RJ), Roberto Freire (PPS-PE) e José Carlos Aleluia (PFL-BA) e o prefeito do Rio, César Maia (PFL).
Depois, foi a vez de avaliar a situação do Nordeste. Freire disse que não há mais possibilidade de Lula crescer na região. "Temos de subir alguns pontos. Isso será possível porque Lula não tem mais para onde crescer, apenas baixar." Alckmin e os integrantes de seu conselho político estavam animados com o resultado do Datafolha. "É só manchete do jornal dizer que vai haver segundo turno que a campanha de Lula vai despencar", disse César Maia.
Para Alckmin, as pesquisas mostram que haverá segundo turno. "A tendência do eleitor é levar a disputa para o segundo turno, porque ele sempre quer saber qual é a melhor mensagem." Tasso avaliou que Heloísa Helena ainda vai crescer mais e que poderá chegar aos 15%. Para ele, esse crescimento deve ser comemorado, pois Heloísa forçará o segundo turno. "Podemos até dizer que o segundo turno pode ser realizado entre a senadora e nosso candidato, por que não?"
Carregado no fim da manhã nos braços de cabos eleitorais da governadora de Brasília, Maria Abadia (PSDB), antes da inauguração do comitê, Alckmin procurou animar os presentes. "Hoje a caravela vai partir. As velas estão cheias de sonho e de esperança, e é com esse sonho, com essa esperança, que vamos fazer grande campanha."
A disputa entre facções do PFL do Distrito Federal quase atrapalhou a inauguração do comitê. Quando Alckmin já tinha saído, o candidato do PFL ao governo de Brasília, José Roberto Arruda, quase agrediu Pastor Aquino, que se identificou como filiado do PFL e partidário de Maria Abadia. O pastor disse que Arruda era "enganador do povo e que não era ninguém". Arruda foi impedido por colegas de brigar com o pastor.