O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou hoje unidade do PSDB, em um recado aos grupos do governador eleito de São Paulo, José Serra, e do reeleito de Minas, Aécio Neves, e defendeu a realização de prévias para a escolha do futuro candidato tucano à Presidência em 2010. Para Fernando Henrique, as duas questões devem estar na pauta da reestruturação para fortalecer o PSDB. ?Por que ter medo de prévias??, indagou o ex-presidente em um encontro a portas fechadas com deputados estaduais e federais tucanos.
Foi um dos poucos momentos em que a platéia rompeu o silêncio e aplaudiu Fernando Henrique. Do lado de fora, para os jornalistas, o ex-presidente foi lacônico, quando indagado se era favorável à instituição de prévias. ?Eu sou?, respondeu.
O assunto sempre foi tabu no PSDB, mas a disputa interna entre o ex-governador Geraldo Alckmin e o então prefeito José Serra para encabeçar a chapa nas eleições deste ano, apontada por tucanos como um dos motivos da derrota nas urnas, acendeu o sinal vermelho. Sem citar nomes, mas mandando um aviso a Serra e Aécio, Fernando Henrique disse que ?a verdadeira liderança tem de ter sensibilidade em certos momentos e saber que não é para atirar no outro?. ?É para dar as mãos?, emendou, aplaudido mais uma vez. Serra e Aécio são os nomes mais cotados do PSDB para a disputa presidencial em 2010. Em outro momento, foi mais explícito: ?Questão de fulano ou beltrano é perda de tempo contra nós?, sentenciou.
O líder tucano negou as especulações de que o governador eleito de São Paulo tenha planos de deixar o PSDB e fundar um novo partido de centro-esquerda. ?Não existe isso. O Serra falou outra coisa: facilitar a mudança de pessoas de um partido para outro, mas nada consistente. Eu falei com o Serra por telefone lá nos Estados Unidos e ele disse que não vai criar partido nenhum.?
ORGANIZAÇÃO - Fernando Henrique voltou a criticar a falta de organização do partido e cobrou maior diálogo com a população e posição mais clara sobre temas nacionais, como a Amazônia, a questão energética e a segurança pública. ?Qual a nossa posição??, perguntou várias vezes aos deputados. Em tom duro, respondeu algumas vezes: ?Tem de ter posição.?
Ele sugeriu que se inicie esse diálogo e discussão, promovendo reuniões, seminários e congressos. ?É preciso que haja mais fluidez de comunicação dos vários membros do partido com aqueles que não são do partido. Se o partido só fala para dentro não adianta. Tem de falar para fora. E para isso precisa ter internet, reuniões, seminários, congressos, discutir os temas do País.?
O ex-presidente criticou a oposição feita pelo PSDB nos últimos quatro anos e disse que o partido precisa ?profissionalizar? a fiscalização do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para isso, propôs ao presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati (que não estava presente), a contratação de uma consultoria para fazer o que chamou de ?acompanhamento rigoroso? das ações do Executivo. ?Se não profissionalizar, não vai funcionar?, adiantou.
Ele também opinou sobre qual deve ser o comportamento do PSDB diante dos pedidos de governabilidade de Lula. ?Nós não vamos votar contra o Brasil como o PT fez várias vezes. Mas isso não quer dizer que tenhamos de estar lá toda hora tomando cafezinho com o presidente.?
Nesse processo de rearranjo partidário, Fernando Henrique disse ser a favor à renovação de quadros políticos, mas não a considerou fundamental neste momento. ?Quantos mais quadros novos vierem, melhor. Mas isso não é importante agora, não.? Segundo ele, Tasso vai cumprir seu mandato até o fim de 2007.