Em entrevista ao Jornal Nacional da noite desta terça-feira, a candidata à Presidência da República Heloísa Helena (PSOL) chegou à ensaiar uma discussão com os apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes. Os jornalistas fizeram perguntas à candidata centradas em suas declarações e ouviram respostas com as palavras traição, desonestidade e cinismo. Heloísa Helena classificou seus opositores como "sabotadores do desenvolvimento".
Durante os onze minutos da entrevista, a senadora alagoana teve poucas chances de falar sobre seu projeto político, pois passou mais tempo explicando suas convicções e rebatendo declarações contra os colegas de profissão. Resumiu a si mesma como tranquila e franca, mas nunca fingida ou dissimulada. Refez as críticas endereçadas ao ministro das relações Internacionais Tarso Genro, a quem chamou de "menino de recado" e reiterou que espera discutir política diretamente com o presidente Lula.
Questionada sobre se teria competência o suficiente para ocupar a presidencia, Heloísa Helena se disse "absolutamente preparada" e afirmou que jamais cederia o seu nome a um projeto político se não se sentisse plenamente capaz disto. Ao ser lembrada que sua carreira política partiu da vice-prefeitura de Maceió até o Senado, a candidata lembrou os exemplos de Lula e Fernando Henrique, que chegaram ao palácio do Planalto sem maiores experiências em cargos executivos.
A questão da reforma agrária foi um dos pontos mais polêmicos da entrevista. Heloísa Helena afirmou que não vai tomar terras produtivas porque a Constituição não permite. "É impossivel fazer expropiação de terra no Brasil a não ser que a propriedade cultive o trabalho escravo ou maconha". Ao longo dos esclarecimentos, sobrou até mesmo para Fátima Bernardes. "Meu amor, eu tenho obrigação de saber mais de reforma agrária do que você", ironizou.
Logo após, afirmou que o projeto do PSol passa longe do socialismo. "Seria desonestidade intelectual da minha parte dizer que vou implementar o socialismo. Não há na Terra uma só experiência verdadeira do regime."
A democracia brasileira foi bastante criticada pela candidata, o que irritou os jornalistas. "Não pode haver democracia em um país em que 48% da riqueza é apropriada por 0,005% das famílias", atacou. Em seu projeto de governo, prometeu baixar os juros para gerar dinheiro "novo e limpo" para investir em educação, saúde e tecnologia. "Não é dinheiro para deixar livre para mensalão, sanguessuga nem nada disso".
Heloísa Helena chamou o governo de "incompetente" ao lembrar das declarações que deu no episódio da invasão do Congresso Nacional, em que disse que o real endereço da manifestação era o Palácio do Planalto. "Se eu tiver a honra de chegar ao Palácio do Planalto, isso certamente não vai acontecer, porque o meu governo não será incompetente para promover o assentamento de familias que se faz atualmente, com acampamentos que na verdade são grandes favelas rurais. As invasões só acontecem porque os governos são incompetentes a ponto de provocá-las".
A entrevista com Heloísa Helena foi encerrada com agradecimentos ao apoio recebido pela candidatura em todo o Brasil e a promessa de que seu mandato seria como o de uma mãe em acalento dos próprios filhos.