O travesti e dançarino de banda de pagode Leo Kret do Brasil, a quarta pessoa mais votada no pleito de domingo para a Câmara de Vereadores de Salvador (12.861 votos), promete iniciar seu mandato, 1° de janeiro, “quebrando preconceitos”. Ele disse que se recusa a vestir-se como homem e freqüentar o sanitário masculino na Casa, cujas regras são claras: nome masculino no RG, terno e gravata. Leo Kret, ou Alecsandro de Souza Santos, 24 anos, no entanto, disse que será “vereadora”.
“Como eu sou feminina, é assim que o povo me elegeu, é assim que eu quero ficar”, disse. E continua: “Mas pode deixar que vou ficar bem-vestida. Vou usar um tailler, blazerzinho, scarpin todo fechado, cabelinho amarrado”. A polêmica deverá ser decidida entre velhos e novos vereadores, já que a renovação da Casa foi de quase 47% das cadeiras. Mas, por precaução, Leo Kret e sua assessoria já estão coletando assinaturas contra as regras, além de organizar manifestação em frente à Casa, logo na sua posse.
Para completar, disse que seu nome de gabinete será mesmo Leo Kret. E de onde vem o apelido? “Foi um amigo meu que colocou. Mas de onde vem, adivinha, amiga. É porque quando eu danço, faço caras e bocas, é a minha sensualidade... cretina, entendeu? Todas temos um pouco de cretina, não é?”
Durante sessão de fotografias, nesta segunda-feira, 6, defronte à Câmara de Vereadores, no centro da cidade, o travesti vereadora causou um frisson entre os passantes. Muitos pararam para abraçá-lo e beijá-lo. Trajado com calça jeans com cintura abaixo do umbigo e blusinha cor de laranja, Kret disse que terá de renovar completamente o guarda-roupa, cheio de shortinhos e calças com elastano. Se sofrer preconceito entre vereadores, ameaça: “Tudo o que fizerem contra mim vou publicar na mídia”.
PROJETOS – O dançarino não pretende deixar os palcos e acredita que ali, nos shows, quem o elegeu poderá encontrá-lo. “Show é mais final de semana. Eu, no palco, vai ser como os eleitores me cobrarem”, disse.
Embora Leo Kret do Brasil afirme que representa a população GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) e prometa mergulhar na luta pela criminalização da homofobia – projeto que está engavetado na Câmara desde 1997 –, um dos precursores dos direitos dos homossexuais, o antropólogo Luiz Mott, fez críticas à sua candidatura. Mott não foi encontrado para comentar o fato, mas para Leo Kret as críticas advêm do fato de o antropólogo ter apoiado o atual presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), Marcelo Cerqueira (PV), que não foi eleito.
“Eu fiquei muito triste, amiga... nem deu tempo para pedir apoio, porque eles meteram o pau na minha candidatura”. E, agora, mágoa? “Não! A humildade é o segredo do sucesso!”
Para uma das coordenadoras da Associação dos Travestis de Salvador (Atras), Keila Simpson, a candidatura de Kret não se originou da militância gay. Porém, caberá agora, à militância, aproximar-se dela. “Só o fato de ela ser eleita já é avanço significativo em Salvador, é um passo contra o preconceito”, diz.