Roberto Aguiar | Fotos: Raul Spinassé | Ag. A TARDE
Prefeito rebateu postura do presidente Jair Bolsonaro que polemizou com os maiores países investidores do Fundo Amazônia
"Não acho que se deva tensionar nem com a Alemanha nem com a Noruega. Aliás, com qualquer outro país que contribua para o Fundo Amazônia", disse o prefeito de Salvador ACM Neto (DEM), em entrevista ao A TARDE, na abertura da Semana Latino-americana e Caribenha sobre Mudança do Clima, que teve inicio nesta segunda-feira, 19, em Salvador.
ACM Neto se refere à postura do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que tem polemizado com Alemanha e Noruega, os dois maiores financiadores do Fundo Amazônia. "O que temos que fazer é buscar o diálogo e deixar de lado disputas ideológicas", afirmou ACM Neto.
"A questão ambiental está acima das questões ideológicas ou do pensamento político-partidário de quem governa esse ou aquele momento o país. Essa tem que ser uma mensagem muito clara", completou.
O prefeito de Salvador ressaltou que tal situação só pode ser superada na base do diálogo e que os recursos são importantes para o Brasil. "Não é bom um conflito que venha comprometer recursos importantes que o Brasil recebe destes países, principalmente em um momento de crise econômica e problemas fiscais que passamos. Não dá para desprezar a contribuição destes países ao Fundo Amazônia", frisou.
O primeiro-secretário da embaixada alemã, Lutz Morgenstern, que participou da mesa de abertura da Semana do Clima, disse que não tinha autorização do governo da Alemanha para falar com a imprensa sobre este assunto.
Nenhum representante do governo federal participou da solenidade de abertura do evento. De acordo com o secretário municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência, André Fraga, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles virá ao evento.
Fundo Amazônia
Criado em 1º de agosto de 2008, o Fundo Amazônia tem por finalidade captar doações para investimentos não-reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, e de promoção da conservação e do uso sustentável das florestas.
Alemanha e Noruega constiuem os países que mais contribuem, sendo responsáveis por 99% dos 3,3 bilhões de reais que já foram repassados ao Fundo Amazônia. Contrários às mudanças feitas pelo governo Bolsonaro, que extinguiu comitês responsáveis pela gestão do fundo, ambos suspenderam os repasses financeiros.
A Noruegua suspendeu o envio de R$ 133 milhões. A Alemanha, R$ 155 milhões. Até o momento, a postura do presidente Jair Bolsonaro é de fazer deboche nas redes sociais. "Pega essa grana e refloreste a Alemanha, ok?”, disse no tuitou na última quinta-feira, 14. No domingo,18, na mesma rede social, Bolsonaro afirmou que 40% do Fundo Amazônia vai para as Organizações Não Governamentais (ONGs), chamadas pelo presidente de "refúgios de muitos ambientalistas".
Carta dos governadores
Ontem, os Governadores da Amazônia Legal lançaram uma nota pública onde lamentam as que posições do governo brasileiro tenham levado Alemanha e Noruega a suspenderem repasses de recursos para ajudar na preservação da Amazônia.
Assinada pelo governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), presidente do Consócio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, a nota afirma que os governadores do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins são "defensores incondicionais do Fundo Amazônia".
Os governadores declaram que irão dialogar diretamente com os países financiadores e ressaltaram que os "governantes do bloco amazônico desejam participar diretamente das decisões para reformulação das regras do Fundo Amazônia, que estão sendo feitas pelo BNDES. Queremos, ainda, que o Banco da Amazônia passe a ser o gestor financeiro do Fundo, em razão da proximidade da instituição financeira com os estados, já que o Banco da Amazônia possui sede em todas as unidades do bloco".
O texto pontua que os governadores são "radicalmente contra qualquer prática ilegal de atividades econômicas na região" e que estão "firmes e vigilantes no combate e punição aos que querem atuar fora da lei".
O Palácio do Planalto informou que não comentará a nota.
Prefeito de Salvador recebeu o embaixador da Holanda, Kees van Rij