Muitas pessoas que sofrem de ansiedade acabam guardando os sentimentos para si
Neste artigo, pretende-se articular a ansiedade enquanto acontecimento intenso nos dias atuais, da teoria psicanalítica, sobretudo porque Freud foi um precursor em descrever algumas das suas características, sintomas e motivações.
A ansiedade surge como resultado de um conflito, motivado pelas necessidade daquilo que Freud chamou de ID, instância psíquica que visa a obtenção de prazer, satisfação. Porém, nem sempre é possível realizar esse desejo. Outra motivação é fruto das experiências traumáticas que acontecem ao longo da vida, incluindo eventos ocorridos na infância, que geram medos, afetos, injustificados.
A ansiedade faz com que a pessoa não saiba sobre o que lhe está acontecendo. A palavra perde a capacidade de traduzir o que se sente, apenas se sente. Nesse sentido, se torna uma experiência angustiante, entre outras coisas, pela falta de significado que a experiência traz. Sente-se algo que não se sabe dizer sobre, diz-se, apenas: é ansiedade.
Os sintomas físicos, portanto, surgem como indicadores da ansiedade, sobretudo nos dias atuais. A partir dos novos modelos de classificação, DSM - V e CID 10. O que não está, em si mesmo, equivocado. No entanto, é preciso entender que mesmo após a utilização de ansiolíticos - medicamentos para ansiedade, crises ansiosas, etc - falta a palavra dizer, então, o que está acontecendo. Fazer a ansiedade e suas motivações existir a partir da fala para, a partir disso, lidar com ela. Não apenas senti-la.
Segundo Freud, o Ego é nossa parte psíquica que se relaciona com a realidade. Tal relação nem sempre é fácil. A priori porque, conforme descrevi acima, existem conflitos, em alguns casos ou questões, constantes com desejos profundos. A medida em que o sujeito não reconhece, ou não tem acesso, aos seus desejos inconscientes, cria-se portanto, um conflito psíquico.
A ansiedade em seu caráter realista surge como um acontecimento específico, real. Medos que podem aparecer a partir de um determinado evento por uma causa objetiva. Inclusive, essa seria uma maneira, segundo Freud, de nos protegermos contra aquilo que nos faz mal, nos agride. Seja física ou psiquicamente.
Cria-se, portanto, uma forma ansiosa de se ajustar diante do acontecimento. “sinto uma ansiedade toda vez que vejo algo parecido com…” ou “toda vez que eu penso em determinada coisa fico ansioso.
Outro caráter da ansiedade é seu aspecto neurótico - no sentido psicanalítico do termo - que se dá diante da antecipação dos fatos, circunstâncias. Pessoas que vivem, inclusive tomando enquanto uma experiência real, o que lhe ocorre apenas em sua mente. Mas, que não existem - ou ainda não existem - fora dela. A partir dessa antecipação e, sobretudo, vivência daquilo que não se percebe nos acontecimentos diários, se não futuros, o sujeitos descarrega, empreende energias em algo que ainda vai acontecer. A medida, então que isso não ocorre, a falta do acontecimento que tem por certo lhe gera nervosismo, descontrole - no sentido de não controlar o que está acontecendo, por acontecer e, também, a si mesmo.
Isso inclui, entre outras coisas, aspectos morais, a saber, em um determinado momento a pessoa acredita que decepcionou seus pais, por exemplo, no momento em que não se tornou o que lhe era desejado. Ou mesmo o sujeito que, embora esteja sendo promovido, sofre por não se sentir apto a desempenhar o cargo que ele mesmo mostrou-se capaz de conseguir.
Esses conflitos, nesses casos morais, portanto, se dão a partir da relação do ID, segundo a Psicanálise, lugar psíquico que é responsável pelos desejos do sujeito e o Superego, que tem seu caráter social, exigente e, muitas vezes, negligente quanto aos nossos desejos. Sendo, também, interno, ou seja, nossas exigências internas, cobranças, medo da vergonha ou do fracasso, não sermos amados, solidão.
Portanto, a ansiedade se liga a aspectos fisiológicos assim como a aspectos psíquicos. Uma vez que o sujeito não é dividido mente x corpo. Por isso mesmo o acompanhamento psicoterapêutico aliado, quando necessários, a intervenções medicamentosas se torna um elo fundamental.
Ansiedade, em si mesma, não é uma doença. É, sobretudo, um acontecimento! Ao mesmo tempo em que impõe ao sujeito formas de sofrimento, angústia entre outras coisas, também tenta protegê-lo daquilo que o angustia, o faz sofrer.
Os remédios em sua função reguladora, permitem que determinadas alterações, sejam hormonais por exemplo, sejam equilibradas, reguladas. A psicoterapia permite que o sujeito fale sobre como ele sente, compreende e o porque ele acredita que aquela ansiedade está lá. Isso inclui, muitos casos a capacidade de ressignificação da própria experiência tida como ansiedade. A palavra, nesse caso, também pode ser um fármaco!
Marcos Júnior é psicólogo, psicanalista e professor de cursos de pós-graduação. É especialista em acompanhamento terapêutico em escolas e hospitais psiquiátricos; além de atendimento clínico com crianças, adolescentes e adultos, além de palestrante e escritor.
Psicólogo e psicanalista Marcos Júnior | Foto | Divulgação
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