De tanto varrer lixo e afastar a água de esgoto na rua onde mora, no Bairro Santa Cruz, em Vitória da Conquista (a 509 km de Salvador), a dona-de-casa Anésia Ferreira dos Santos nem se dá conta que a tarefa deveria ser executada pela prefeitura. E ela não está só nessa rotina. Todos os dias, os moradores do bairro pegam no pesado, inclusive em atividades de limpeza de terra e esgoto a céu aberto com pás e enxadas. “A gente é que tem que fazer senão acumula e a dengue ataca”, acredita a dona-de-casa.
Anésia garante que a limpeza é diária, para evitar situações como a que, segundo disse, prejudicou seus filhos menores. “As crianças ficaram doentes por causa do mau cheiro desse esgoto e com o corpo cheio de caroços”. Moradora do mesmo bairro, a dona-de-casa Solange Pereira Santos atesta as palavras da vizinha. “Por mais que a gente evite, as crianças andam aqui perto do esgoto, correndo risco de contrair doenças. Essa água parada pode ser um grande foco de dengue”, conta Solange.
De acordo com o Centro de Controle de Endemias de Conquista, este ano foram notificados 79 casos positivos de dengue, 75 suspeitas negativas e 129 possíveis casos ainda aguardam resultado do exame de confirmação. O órgão aponta que não há registro de morte causada pela doença. “Está dentro da normalidade para esta época do ano”, garante a coordenadora do centro, Fabiana Cavalcante.
Outro morador, o músico Sérgio Santos Lima, depõe contra a situação. “O mau cheiro tira a fome de qualquer vivente, sem contar que, além das muriçocas, a gente ainda convive com a invasão de ratos nas casas”. O bairro fica nas proximidades da Lagoa das Batéias, local construído pela prefeitura para contenção de águas da chuva e de esgoto. Por enquanto não existe tratamento sanitário adequado.
“Uma vergonha. As ruas sujas de terra e lama de esgoto. A gente é quem limpa, como vocês estão vendo”, confirma Wilton Silva Leal. “Aqui no caminho 14, eles (operários) abriram valetas dizendo que era para construir a rede de esgoto e tem mais de um mês parado”, completa.
Apesar das queixas dos moradores e da situação constatada pela reportagem, a prefeitura afirmou, em nota, que o Santa Cruz e outros bairros populares estariam sendo beneficiados com obras de infra-estrutura urbana. Segundo o informe, as intervenções receberiam recursos do Programa de Urbanização e Integração de Assentamentos Precários, do governo federal.
De acordo com a administração municipal, cerca de 6,7 milhões estão sendo investidos. Uma dessas obras, continua, é a rede de esgotamento sanitário do Santa Cruz, nas proximidades da Lagoa das Batéias. O texto traz a argumentação de que não seria possível construir fossas sanitárias na área, porque o lençol freático está próximo da superfície.
“Por isso, a Prefeitura de Vitória da Conquista assumiu a implantação da rede de esgotamento sanitário, garantindo, além do saneamento para as famílias, a despoluição da Lagoa das Batéias”, sustenta a nota. À medida que o esgotamento for implantado, as ruas serão pavimentadas, com pedras ou asfalto, dependendo das características de cada via, é o que aponta o informe. Essas obras devem ser concluídas em seis meses. Serviço que também contemplaria o loteamento Santa Helena e parte do Boa Esperança.
O revestimento do canal de macrodrenagem da zona oeste, na altura da Serra do Periperi, está em fase de finalização. A intervenção deve reduzir os problemas de carreamento de terra e erosão, beneficiando as áreas em torno dos bairros Bruno Bacelar, Urbis IV e V.