Dona Tieta não abre mão do cachimbo e destaca já ter rezado boa parte dos moradores de São João do C
Quem nunca sentiu uma dor de cabeça ou bocejou por várias vezes seguidas e ouviu de alguém que está com mau olhado? O costume antigo de levar crianças e adultos para serem "rezados", que é passado de pais para filhos, é conhecido de perto pelos moradores do bairro São João do Cazumbá, em Feira de Santana (a 109 km de Salvador).
Lá reside a mais velha rezadeira da região, dona Antonieta Almeida de Jesus, a Tieta, 90 anos, conhecida por suas rezas e pelos remédios caseiros.
"Menina, já rezei milhões de pessoas, de bebê a velho. Tudo passa pela minha mão. Todos os moradores daqui já passaram por mim. Rezo desde os sete anos e graças a Deus sou conhecida e respeitada por todos", conta com um largo sorriso no rosto.
Quem chega ao local não tem muita dificuldade de localizar a casa simples de seis cômodos que sempre está de portas abertas e onde todos são recebidos como se fossem da família. "Não digo não a ninguém. Gosto de servir sempre", diz.
Em sua casa, a todo instante chegam pessoas perguntando sobre chás ou rezas para curar uma simples sonolência até doenças mais graves.
"Faço reza para tudo, e a pessoa fica boa na hora. Tenho orgulho de ser rezadeira, fiz medicina na escola da vida. Aprendi a reza com minha mãe adotiva e não mais parei", lembrou.
Viúva, mãe de oito filhos que lhe deram mais de 30 netos e cerca de 20 bisnetos, dona Tieta gosta de andar descalça e faz questão de declarar que é rezadeira ou "médica da vida", como costuma se autodefinir.
Ela não cobra pelo atendimento. Pede uma caixa de velas para acender no altar que mantém. "Algumas pessoas que me dão dinheiro, mas não gosto. Quero velas brancas para colocar para eles e pedir luz para todos", frisa.
Contadora de casos, Tieta lembra que chegou a frequentar uma igreja evangélica, mas foi expulsa. Um dos líderes descobriu que ela mantinha um altar com imagens de santos de sua devoção e fumava cachimbo.
"Ele disse que eu tinha que jogar fora ou deixar de frequentar. Eu não queria ficar lá, pois gosto de samba de roda, cachimbo e de fazer as minhas rezas", disse rindo.
Rituais
Embora afirme que ser rezadeira é para qualquer um que se dedique a aprender, Tieta lembra que algumas restrições devem ser seguidas. Não se deve rezar às segundas-feiras nem durante o pôr do sol.
"Geralmente, a segunda-feira é o dia que se faz despacho nas encruzilhadas. E à noite não se reza, porque se a pessoa não ficar curada, ela morre com o problema", explica. Outra regra é não rezar a pessoa em local fechado, "pois o que sair dela deve ser jogado fora e não ficar dentro da casa", ensina.