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Pesquisadores das universidades de Yale, nos Estados Unidos, e Federal da Bahia (Ufba) descobriram que o vírus da zika pode ser responsável por outros tipos de malformação em bebês, além da microcefalia - alteração no sistema nervoso central que está sendo associada à doença viral.
O estudo, publicado na revista científica Plos Neglected Tropical Diseases, foi liderado pelo estadunidense Alberto Ko e pelo brasileiro Antônio Raimundo de Almeida, diretor do Hospital Geral Roberto Santos.
Para chegar a essa conclusão, os especialistas usaram o caso de uma grávida de 20 anos que teve a gestação interrompida na 32ª semana, no interior da Bahia.
Entre as descobertas dos estudiosos está o primeiro caso mundial de hidranencefalia (deformação na qual a massa cerebral é substituída por fluidos). O acúmulo de líquidos foi identificado também em outras partes do corpo do feto, o que é considerada uma novidade pelos cientistas.
A relação entre as alterações e a zika foi cogitada após a identificação do vírus no tecido cerebral, na medula espinhal e no líquor (fluido corporal), amostras retiradas pelos médicos para análise em laboratório.
IBR
Em Salvador, o Instituto Bahiano de Reabilitação (IBR), que comemora 60 anos na próxima segunda-feira, 29, destaca-se pelo atendimento a pacientes microcefálicos.
O fisioterapeuta Rogério Gomes, coordenador da unidade, explica que a reabilitação de crianças com microcefalia já acontecia no IBR, mas foi ampliada nos últimos meses, por causa do surto da doença no país.
Para isso, foi necessária, segundo o especialista, a criação de novos procedimentos, já que o comprometimento cerebral de microcefálicos oriundos do vírus zika é comprovadamente maior do que os impactos em microcefálicos provenientes de outras causas, como subnutrição materna.
"Os pacientes com microcefalia contraída por causa do zika têm perímetro cerebral menor que os outros. A lesão cerebral é muito grave", afirma Gomes.
O médico destaca ainda que os resultados dessas lesões só podem ser identificados objetivamente a partir de um ano e meio de vida. Entre as possíveis consequências da doença estão os comprometimentos das articulações, da visão e dos músculos do corpo.
A reabilitação desses pacientes depende de grupo multidisciplinar, com fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e psicólogo. "Precisamos ensinar essa criança a engolir o alimento, por exemplo, o que é atribuição do fisioterapeuta", explica Rogério Gomes.
"Essa criança não vai sentar sozinha, não vai engatinhar sozinha. E, se fizer alguma dessas coisas, vai levar muito mais tempo que o típico. Nosso trabalho é estimular a criança a fazer o que a lesão impede", conta.