Jorge Portugal é poeta, educador e ex-secretário de Cultura | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE
Sou eu mesmo. Assim me chamou um querido e saudoso publicitário soteropolitano explicando o inusitado conceito. Disse-me ele: “Jorge, se eu oferecesse uma boa quantia para algum artista baiano se apresentar na Concha Acústica e fizesse uma convocação de todos eles no Campo Grande, teriam lá levantando a mão Ivete Sangalo, Bell Marques, Claudinha Leitte, o É O Tchan, Durval Lélis, Xande do Harmonia, enfim, aquele Campo Grande ficaria “entupido” de artistas, com a mão levantada.
Entretanto – prosseguiu ele – se eu quisesse contratar um professor de grande visibilidade, que tenha o amplo carinho do povo da Bahia, que dê autógrafo na rua e seja reconhecido em qualquer cidade do nosso estado, só você levantaria a mão. Isso pode até ser ótimo para o seu ego – ainda ele falando – por outro lado, posso apostar que o fato lhe traz uma grande tristeza, pois num estado (e de resto um país) de desinformados, com alto grau de ignorância das coisas, só um e um só professor consegue ser o que chamamos de “ídolo de massa”.
Fiquei meditando longo tempo sobre aquela analogia, constatando que ele tinha razão nas duas pontas da história. Recentemente levei uns quatro anos fora do “palco da educação”, na condição de secretário de Cultura da Bahia. Longe das salas e das telas, a popularidade não sofreu um arranhão, as ruas me diziam o tempo todo. Todavia, não estrearam, também, programas educativos dinâmicos e criativos como o Aprovado!, estrondoso sucesso por 15 anos a fio, que ajudou muitos jovens a realizarem o sonho de cursar uma universidade (Albérico Mascarenhas, Rodolfo Pereira Tourinho, esse troféu é nosso!).
Neste ano de 2019, voltei mais firmemente à cena como professor/comunicador da educação. Nessa “rodada final” do Enem, celebramos uma parceria com o portal iBahia.com/queroseraprovado (para onde tinha migrado meu público juvenil em tempos de internet) e o número de visualizações e seguidores tem sido estupendamente crescente. Faltou somente cumprir-se o compromisso com o pedido do governador Rui Costa de um programa na TVE, para todo o ensino médio baiano (com Ideb em meros 2,7) já batizado #PartiuReforço, pois, apesar de andar com celeridade pelos meandros da Sefaz (gastos públicos) e receber parecer favorável da PGE, perdeu-se no “buraco negro” da burocracia do Irdeb e, até agora, não consegui gravar um programa sequer! Lamentável! Muito lamentável. Lamentável demais!
Contudo as andanças da “Ivete Sangalo” aqui não pararam um só minuto. Aulões promovidos pelas instituições privadas para estudantes da rede pública me fizeram retornar, em presença, ao abraço carinhoso e caloroso da galera. “Poeira, poeira, poeira, levantou poeira!!!”. Não é assim que Ivete canta?