Saulo Fernandes vai comandar show gratuito
O desbunde parangodélico da música e dos artistas da Tropicália é a inspiração do cantor Saulo na terceira edição do seu evento anual gratuito pré-Carnaval, o "Canto da Rua", que acontece neste domingo, às 17h.
Com direção artística de Alex Mesquita, que também participa do espetáculo, o palco armado no parque do Jardim dos Namorados ainda receberá como convidados Márcia Castro, Pedro Pondé (Scambo), as Ganhadeiras de Itapoã e uma novidade: as Sussurradeiras.
Responsáveis por abrir o espetáculo, elas se misturam ao público e, por meio de tubos de papelão decorados, declamam poesias direto nos ouvidos das pessoas. Animado com o evento, Saulo confessa por que escolheu o tema: "Ah, eu queria ser um tropicalista, né? Muito! Eram pensantes especiais, artistas transformadores", afirma.
"Desde Oiticica, o Concretismo, com Pop-Art e Antropofagia. E o repertório é muito incrível. Eu citaria Pipoca Moderna, Panis et Circensis, É Proibido Proibir e Divino Maravilhoso", diz Saulo, citando as canções e artistas da Tropicália que chamaram sua atenção.
Por aí, dá para ter uma ideia do repertório do show, ainda que o cantor se esquive um pouco na hora de citar o set list: "No meu caso, algumas canções estão na gavetinha mais feliz e musical do cérebro. Foi muito delicioso relembrar. Junto ao canto, vieram as melhores lembranças", diz.
Para Saulo, a influência do movimento é "fundamental" em sua formação. "Hoje, a gente chuta a porta e ela já está aberta. Pelas experimentações, era antena e chão, sintetizador com pífano... tudo podia, nada era proibido. Liberdade com atitude e coerência são lições musicais de vida", avalia.
Movimento que pregava a abertura das mentes e o fim dos preconceitos em tempos de repressão, o Tropicalismo parece avançado até hoje, quando há tanto retrocesso mental nas redes sociais e no Congresso, fato que não passou despercebido pelo cantor: "Ao ensaiar essas canções, percebi que a palavra de ordem é retrocesso. E isso é triste. Imagine pra quem avançou lá atrás, chutou porta e quebrou parede? País chatinho, né? Moralista, pessoas fazendo tipo na rede e velhinhos ladrões", observa Saulo.
"Mas eu acredito nos filhos tropicais. Acredito em Emicida, Dani Black, Tulipa, Criolo, Márcia Castro, Scambo e Caetano na ativa. Sou um otimista da porra", reivindica.
A poucos dias do Carnaval, Saulo sinaliza que o que o público vai ouvir no Canto de Rua também sobe no trio: "Com certeza! Tem sido assim nos últimos anos e eu só aprendendo. E na pipoca é massa, dá pra cantar de tudo", diz.
Propósitos revolucionários
Responsável pelos arranjos, o diretor Alex Mesquita detalha um pouco como adequou repertório e artistas: "Seria uma tarefa impossível e indesejada copiar ipsis litteris as performances originais, então mantivemos alguns elementos identitários das canções e fundimos com a linguagem contemporânea dos músicos envolvidos", conta.
"Por vezes, exploramos momentos de psicodelia, experimentalismo e improvisação, característico do ambiente tropicalista, mas fazemos à nossa maneira", acrescenta.
Fiel à filosofia revolucionária tropicalista, Alex conta que teve que resolver um pequeno dilema: "Difícil deixar os hits de fora, mas também não queremos chover no molhado e tocar o de sempre da mesma forma original ou seguir o senso estético comum, mesmo porque seria antagônico ao propósito revolucionário tropicalista. Vale a pena lembrar que o conceito de 'lado B ou A' pode variar drasticamente de ouvinte pra ouvinte", conclui.