O economista Affonso Celso Pastore, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e ex-presidente do Banco Central (BC), disse que o atual nível do câmbio, com o dólar inferior a R$ 2,00 não está inibindo o crescimento do País, como dizem muitos analistas. Segundo Pastore, muitos setores lucraram com o dólar a R$ 4,00, mas "o câmbio a R$ 4,00 é que estava errado e não o câmbio atual".
Pastore acredita que se o real se valorizar demasiadamente, ele vai voltar para um ponto de equilíbrio porque o mercado sempre se ajusta. Para o economista, a balança comercial não está sendo prejudicada pelo câmbio. "Com o câmbio mais valorizado, a indústria pode importar maquinário mais moderno e isto reduz custos. Em um gráfico, as linhas referentes à importação e aos investimentos em formação bruta de capital fixo sempre caminham juntos e é isto que estávamos vendo neste momento. Importação e formação de capital bruto da indústria estão em crescimento", afirmou.
Com base nesses dados, Pastore disse que dificilmente o Brasil passará por um processo de desindustrialização provocado pelo câmbio. Ele disse que a atual taxa de crescimento econômico do País, de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano, é menor do que o necessário para aumentar a renda da população, mas este avanço está sendo feito de forma consistente e consolidada. "Este crescimento, apesar de pequeno, é o maior registrado nos últimos 15 anos", disse.
ImportaçãoSegundo ele, o governo poderia adotar medidas que contribuísse para um aumento da expansão, como a redução de tarifas sobre importação de produtos brasileiros, o que elevaria os investimentos diretos em produção, e também o corte de gastos públicos que são ineficientes. Pastore cita o caso da educação, que consome 12% do PIB brasileiro, mas que não tem demonstrado resultados eficientes como os de outros países, como Chile, Argentina, Coréia e México, que têm investido um porcentual bem menor do PIB em educação com resultados muito melhores.
"Se o governo adotasse um programa de redução de gastos públicos que fosse ineficiente, de 1% do PIB ao ano, seria importante para acelerar o crescimento", disse. O primeiro passo, para o economista, seria identificar onde estão as fontes de desperdício de dinheiro público. A partir daí, Pastore acredita que um avanço maior apenas seria possível por meio de reformas. "A macroeconomia do País está no caminho certo, mas há um limite para crescer sem que reformas importantes sejam realizadas", afirmou ele, que participou hoje do seminário Ethanol Summit, em São Paulo.