Daniel Dórea | danieldorea@grupoatarde.com.br | Foto: Felipe Oliveira | EC Bahia
O Tricolor apresentou em alguns momentos uma marcação por pressão agressiva e eficiente
É difícil um torcedor não se empolgar com a campanha do Bahia. Mas sejamos precisos com as palavras: empolgação com a campanha, não com o desempenho do time. Antes do jogo de domingo, contra o Fortaleza, eu tinha uma linha de raciocínio não muito bem digerida por aqueles para quem a expus.
O Tricolor não se apresentava muito melhor em relação àquele dos dois anos anteriores. A grande diferença é que a sorte tinha lhe sorrido um pouco mais. Voltemos aos três triunfos consecutivos, algo que o time não conseguia no Brasileirão desde 2013.
Frente aos reservas do Atlético-MG, ganhou sem, absolutamente, mostrar superioridade. Depois, diante do CSA, caminhava para o típico empate entre uma equipe mais forte que ataca sem convicção e uma mais fraca que defende como única alternativa. Salvou-se com um gol de falta no fim. Contra o Vasco, o triunfo fora de casa por 2 a 0 pode sugerir boa imposição num confronto contra um adversário de respeito. Mas o fato é que o Bahia nada tinha feito até abrir o marcador, já no tempo complementar, após bola longa de zagueiro. E da mesma forma saiu o segundo gol.
No duelo com o Fortaleza, foi evidente a incapacidade do time de construir jogadas objetivas quando a possibilidade de contra-ataque praticamente inexiste. O único contragolpe bem encaixado pelo time em toda a partida foi aquele do passe de Artur com a furada espetacular de Gilberto.
Fora isso, de positivo, o Tricolor apresentou em alguns momentos uma marcação por pressão agressiva e eficiente. Foram seis bolas roubadas no campo de ataque, com uma boa oportunidade criada a partir de uma delas – Artur recebeu no canto da área, levou para o meio e isolou. Também gostei de uma jogada ensaiada de bola parada, no primeiro tempo – após cobrança de escanteio rasteira, Guerra ajeitou para trás e Artur errou o chute da marca do pênalti. Foi a melhor ideia do Bahia no jogo.
No gol, valeu a iniciativa individual de Artur para sofrer o pênalti, além do espaço encontrado pela ponta mesmo com o Fortaleza recuado. Mas a verdade é que a equipe cearense não fez retranca o tempo todo. Conseguiu manter a posse de bola por diversos momentos e teve até iniciativas mais objetivas quando foi ao ataque.
Tanto é assim que os números da partida denunciaram equilíbrio, com leve superioridade do Bahia: 52% a 48% na posse de bola, 10 a 9 nas finalizações. Nos escanteios a favor, o Leão foi melhor: 7 a 5.
Confira detalhes no infográfico
Aproveitamento
No infográfico, mostro as vezes em que o Esquadrão tentou, contra uma marcação mais adiantada do adversário, verticalizar as jogadas. Não foram lá muitas ocasiões: 17, sendo que em nove delas a bola acabou nos pés do Fortaleza (círculos vermelhos) e em oito houve prosseguimento do lance (círculos azuis). O Bahia usou de seis chutões, com continuidade da jogada em dois deles (faltas sofridas), seis passes esticados da defesa (quatro errados), e só teve bom aproveitamento quando um de seus jogadores arrancou com a bola.
Desta forma, o time conseguiu quebrar linhas em cinco oportunidades, sendo que em apenas uma delas o passe saiu equivocado ao fim da corrida. Gregore foi responsável por quatro dessas jogadas, que eram a especialidade do time em 2017 e 2018, com as iniciativas de Zé Rafael. Hoje, com Artur em seu lugar, as transições só ocorrem se houver muito espaço à frente.
Em certo momento do embate, Roger Machado reclamou do banco de reservas: “falta gente no meio!”. Não é de se estranhar. Quando um dos volantes arrancava com a bola, o outro invariavelmente ficava atrás dele, os pontas estavam muito abertos e Guerra só aparecia quando o lance chegava às proximidades da área ofensiva.
Duas das conexões que analisei aconteceram quando Lucca fez o movimento de buscar o jogo pelo meio. Mas a má fase física e técnica do atleta atrapalha demais. Entendo a insistência de Roger, pois ele também deve estar angustiado com a falta de funcionamento do time. A figura de um segundo atacante, como Lucca, poderia ser uma solução.
Mas não é. Nos jogos em que o Bahia precisar jogar mais com a bola, sugiro a manutenção da trinca de volantes e a escalação de Guerra no ataque. Mais do que isso, porém, o time precisa de treino.