Jordi Ribera é técnico da seleção masculina de handebol
De volta ao comando da seleção desde 2012 - ele foi técnico também no ciclo 2005/2008 - o espanhol Jordi Ribera, de 51 anos, tem a missão de alavancar o rendimento da equipe masculina. Para isso, ele criou acampamentos técnicos que percorre todos os estados do Brasil para recrutar talentos, e toma conta das equipes de base ao mesmo tempo da principal. Vale ressaltar que dez dos atuais convocados para o Mundial no Qatar, que começa dia 15, fizeram parte desse projeto. No entanto, ele acredita que ainda há muito a ser feito para que o rendimento masculino seja equivalente ao das mulheres, que foram campeãs do mundo em 2013. Segundo ele, só agora os homens estão chegando no mesmo lugar que as mulheres quando venceram o campeonato. Agora são oito os jogadores que atuam em clubes fora do país, o que, segundo Ribera, é determinante para o amadurecimento técnico - já que no Brasil não existem competições longas nem muitos clubes de handebol.
Na quarta-feira vocês embarcaram para o Egito, onde a equipe vai disputar o último torneio preparatório para o Mundial. Quais são as expectativas para essa competição?
Eu acho que o importante não são os jogos, mas a parte de treinamento. É mais um teste para ver se jogaremos bem no Mundial. O que vamos tirar de mais proveito é compartilhar experiências com outros grupos, com outras seleções e fazer uma avaliação de como estamos.
Qual é a meta para o Mundial, no Qatar, e para o Pan, em Toronto?
No último mundial, na Espanha, ficamos em 13º lugar, o que foi um resultado bom. Queremos melhorar esse rendimento, jogar da melhor forma possível e passar para as oitavas nos primeiros lugares. Se ficarmos com uma boa colocação, estaremos mais fortificados e o cruzamento para as quartas de final será mais fácil. Nossa estratégia para o Mundial é essa. O Pan está mais longe, temos mais tempo. Normalmente as seleções disputam o Pan com o objetivo de classificação para a Olimpíada. Mas, como já estamos classificados, queremos fazer uma boa campanha e brigar pelos primeiros lugares.
A melhor colocação que a seleção brasileira conseguiu em uma Olimpíada foi em Atenas-2004, com a 10ª posição. Espera bater essa marca?
Temos esse objetivo. A seleção tem tido bons resultados recentemente. Temos jogadores novos, temos uma boa equipe e todas as condições para começar a brigar por posições melhores nos campeonatos grandes, porque a seleção está bem diversificada. Jogadores mais novos estão misturados com mais antigos. Nessa seleção temos três atletas na faixa de 30 anos, três ou quatro jogadores juniores, no início dos 20 anos, e a maioria numa faixa intermediária, com 25, 26 e 27 anos. Em relação a equipes europeias, por exemplo, a nossa é mais nova.
E o que você espera da Olimpíada do Rio de Janeiro?
Estamos trabalhando tanto, em tantas competições, que fica difícil falar de uma que só vai acontecer daqui a um ano e meio. Ainda não nos preocupa. Estamos nos preparando e treinando para jogar de forma ótima, é só o que posso garantir agora.
Você teme que a estrutura dos ginásios e demais equipamentos esportivos não esteja pronta ou fique devendo em relação a outras edições dos Jogos?
Ah, não, não... Quanto à qualidade da estrutura, não tenho medo nem receio. Tenho certeza que, na hora certa, tudo estará pronto da forma correta.
A seleção masculina é muito comparada à feminina, que já foi campeã mundial da categoria. Por que você acha que a equipe masculina não conquistou, ainda, os mesmos resultados?
Os objetivos das equipes são diferentes e as realidades também. As meninas saíram do país e estão jogando fora, com as melhores do mundo, há muito tempo. Por conta disso, aperfeiçoaram o nível técnico. O convênio da seleção brasileira com o time austríaco Hypo Nö também ajudou muito, porque elas eram treinadas pelo mesmo técnico, tanto no time quanto na seleção [o dinamarquês Morten Soubak]. Isso dá continuidade ao trabalho e fortalece a equipe. Os meninos estão iniciando esse processo agora para que, assim, a gente consiga resultados melhores. Alguns deles já jogam fora do país, outros estão se aprimorando tecnicamente aqui no Brasil. Nossos caminhos estão em estágios diferentes, mas eu acredito que devem se encontrar em um futuro breve.
O que você acha que precisa ser feito para que as duas equipes tenham resultados equivalentes nas competições?
Temos que ter continuidade, trabalhar da forma certa. Agora temos muitos jogadores novos que estão amadurecendo, mas que ainda é cedo para esperar um resultado alto. Mas esses jovens estão melhorando pouco a pouco a formação, alguns em nível internacional e outros por aqui. Nossa seleção passou de ter resultados ruins para ter resultados bons, como no último Mundial, na Espanha. Mas é claro que ainda temos um caminho a seguir até que o time seja campeão.
Você disse que a experiência no exterior melhora o rendimento dos atletas, tanto que oito dos 17 convocados para o Mundial atuam fora do país. Há alguma expectativa para que essa condição mude?
Para que isso aconteça precisamos melhorar as competições aqui no Brasil e aumentar o número de torneios, com mais campeonatos regionais e mais equipes competindo. Lá fora eles jogam oito, nove meses por ano, dois jogos por semana, portanto, o rendimento é muito alto. Isso é uma coisa que ainda nos falta aqui. E lá você pode competir com equipes e jogadores do mais alto nível, o que estimula a melhora técnica. Não tem jeito, o processo para chegar lá é esse: competições mais longas e mais clubes competindo.
Em 2012, você assumiu a seleção mais uma vez, quando saiu o também espanhol Javier Cuesta. Seu nome voltou à tona pelo trabalho no ciclo 2005-2008, no qual classificou o Brasil para os Jogos de Pequim. Por que você saiu do comando da equipe?
Em princípio, meu contrato era somente até a Olimpíada de Pequim, em 2008. Quando isso aconteceu (o Brasil ficou em 11º lugar), terminei saindo do comando da seleção e voltando para a Espanha, onde fiquei por quatro anos à frente de outras equipes. Quando o Brasil não classificou para Londres, em 2012, me convidaram para voltar e pediram para eu fazer esse trabalho extenso, mais voltado para a base.
Algumas confederações, como a de futebol, não aceita técnicos de fora do país. Como é ser estrangeiro e comandar a seleção brasileira?
Para mim não é somente comandar uma seleção, é um projeto. São duas etapas, sendo que uma é identificar jovens promissores e depois trabalhar com eles até a chegada ao profissional. Não é somente treinar a seleção adulta. Trabalhamos com todas as categorias, dos mais novos aos profissionais. Realizamos acampamentos, viajamos para preparar jogadores e qualificar professores. De certa maneira podemos afirmar que esse é um projeto global. Um dos atrativos que me fez aceitar voltar aqui é justamente a possibilidade de trabalhar num projeto de formação de técnicos e novos talentos, além de treinar os atletas adultos.
Logo que assumiu, em 2012, você realizou acampamentos técnicos pelo Brasil para reconhecer atletas em potencial para a equipe de base. Como foi o processo? Ele ainda existe?
Ainda acontece, sim. Todo ano trabalhamos com professores e alunos. Temos 120 meninos em todas as categorias: mirim (sub-12), infantil (sub-14), cadete (sub-16), juvenil (sub-18), e júnior (sub-21), e os melhores do Brasil são recrutados. Viajamos para todos os estados realizando os acampamentos técnicos para identificar jovens promissores e qualificando treinadores.
Algum atleta que tenha passado pelos acampamentos técnicos conseguiu chegar até a equipe principal? Tem algum deles na atual seleção?
Sim, por exemplo, dez jogadores que passaram pelo acampamento, quando meninos, estão hoje no time principal. Prezo pela continuidade no trabalho, acho que é importante acompanhar o processo de formação dos novos atletas.
Você dividia muito seu tempo entre a base e a equipe principal, quando, normalmente, existe um técnico específico para os atletas em formação. Por que você prefere estar à frente da equipe de base?
Acho que é a única maneira para dar passos para frente. Em cada uma das categorias de base temos nossas próprias comissões. Essas equipes técnicas ficam à frente de cada categoria acompanhando a evolução desses jovens até que eles subam para o time profissional. Por isso, não temos problemas quando um jogador sobe de uma categoria para outra, porque existe uma consistência de treinamento. Todas as equipes seguem o mesmo padrão de jogo. A continuidade é imprescindível para a melhora técnica a longo prazo.
Na escola europeia de handebol, os jogadores de linha de frente são mais altos, mais resistentes, e os de ponta são mais explosivos e velozes. É difícil achar jogadores com os dois perfis?
Sempre é complicado ter os dois perfis bons. Um time equilibrado precisa de jogadores que tenham características específicas e variedade de tipos físicos. Além disso, é importante que o jogador tenha um condição técnica boa, porque não adianta ter potencial se não é usado. Mas temos conseguido recrutar jogadores variados aqui no Brasil.
No Brasil temos apenas um grande campeonato, que é o paulista. O campeonato brasileiro acaba sendo uma reedição deste último. Isso dificulta o processo de amadurecimento do esporte no país?
Para qualquer esporte se desenvolver de forma satisfatória temos que ter uma competição regular, de oito, nove meses. É preciso que mais estados realizem torneios regionais e que os clubes contratem, deem mais destaque ao handebol. Faltam lugar para que os atletas possam competir e faltam clubes e competições durante o ano.
Seu contrato termina depois dos Jogos Olímpicos em 2016. Espera ficar mais tempo por aqui?
Não sei agora, ainda está cedo para saber. Mas quando chegar a hora vamos conversar sobre a possibilidade de uma continuidade por aqui.