O Movimento ao Socialismo (MAS), partido do presidente Evo Morales, se perfilava hoje (2), no momento em que se encerravam as urnas, como o grande vencedor da eleição para os 255 membros da Assembléia Constituinte. A primeira projeção extra-oficial, com 15% dos votos contados, mostrava a
vitória do partido em cinco das nove províncias. A confirmar-se essa tendência, de acordo com o complexo sistema de preenchimento das bancadas, a expectativa era a de que o MAS - embalado pelos 80% de popularidade de Evo - elegesse pelo menos mais da metade dos deputados constituintes.
Com isso, a próxima Constituição boliviana deve abrir o caminho para que o governo de Evo promova a série de reformas com as quais pretende, segundo a definição do presidente, "refundar a Bolívia". Na esteira da nova Carta, Evo obterá os instrumentos jurídicos para levar adiante projetos nacionalistas,
indigenistas e esquerdistas, pelos quais foi eleito no primeiro turno nas eleições presidenciais de dezembro. Entre essas reformas estão a agrária, trabalhista, judicial, eleitoral e política, que mudariam totalmente a face institucional do país.
Na outra decisiva consulta de hoje, projeções com também 15% dos votos em nível nacional, 53% dos bolivianos votaram contra a autonomia para os nove departamentos do país - o que representaria mais uma vitória de Evo sobre os líderes da região de Santa Cruz de la Sierra. O "sim" à autonomia venceria por 78% contra 22% para o "não", em Santa Cruz. Mas em La Paz, departamento com o maior número de eleitores da Bolívia, o "sim" obteria apenas 28% dos votos, enquanto o "não" teria 72%. Segundo a interpretação de vários juristas, os constituintes eleitos hoje não estarão obrigados a incluir um capítulo sobre autonomia na nova Carta, caso o "sim" não obtenha maioria em
nível nacional.
Com os carros proibidos de circular, a segurança reforçada por soldados do Exército, a proibição de manifestações políticas e a lei seca, a eleição se realizou em total tranqüilidade em todo o país. Em La Paz, as ruas e avenidas do centro estavam ocupadas por ciclistas e crianças jogando futebol.
Nas praças da cidade, o forte apoio ao governo de Evo se evidenciava nas conversas com os eleitores - assim como a decepção pela eliminação da seleção brasileira da Copa do Mundo, outro tema de forte presença no domingo ensolarado. "Para a maioria dos bolivianos, temos um presidente que está cumprindo o que prometeu durante a campanha", disse ao Grupo Estado o
bancário aposentado Martín Sierra.
A oposição boliviana denuncia a ingerência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, no processo eleitoral do país. O ex-presidente e candidato presidencial derrotado em dezembro Jorge "Tuto" Quiroga voltou a insinuar que o governo venezuelano financiou boa parte da campanha do MAS.
O temor da oposição é o de que a ampla maioria do MAS na Assembléia Constituinte - que se instalará em 6 de agosto na capital oficial do país, Sucre - leve a uma Constituição similar à aprovada na Venezuela em 1999, que reforçou o poder de Chávez e lhe deu instrumentos legais para promover reformas radicais em seu país. Evo é amigo e admirador declarado de Chávez e do cubano Fidel Castro.