Um colapso no sistema de totalização de votos, administrada pelo consórcio brasileiro E-Vote, fez a apuração dos votos das eleições de ontem no Equador mergulhar no caos. Até hoje, apenas 70,6% dos votos da eleição presidencial foram contados e os equatorianos não tinham nenhuma idéia sobre quais candidatos ocupariam as 100 cadeiras do Congresso federal e as centenas de vagas dos Legislativos provinciais e municipais. A demora na apuração vem alimentando as acusações do candidato nacionalista Rafael Correa, apoiado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez - inconformado com o segundo lugar que lhe dá a contagem parcial.
O Tribunal Supremo Eleitoral - que dá como fato consumado apenas a necessidade da realização de um segundo turno entre o populista de direita e milionário Alvaro Noboa (com 26,66% dos votos, segundo o último boletim) e Correa (22,51%) - rompeu o contrato com a E-Vote, que receberia US$ 5,2 milhões para realizar o trabalho de apuração dos dois turnos da eleição. O presidente do tribunal, Xavier Cazar, no entanto, não especificou o mecanismo que será adotado para a contagem dos votos nem deu um prazo para que o resultado final da eleição presidencial seja anunciado. Cazar só esclareceu que os votos totalizados até agora indicam que nem Noboa nem Correa alcançaram a votação necessária para resolver a eleição no primeiro turno. E confirmou para 26 de novembro a votação do segundo turno.
"Advertimos que os números que estão sendo divulgados têm como base as informações da empresa E-Vote, cujo sistema ninguém conhece", disse Correa, insistindo que pesquisas encomendadas por seu partido lhe dão uma pequena vantagem sobre Noboa na votação de domingo. "O relatório da Organização dos Estados Americanos nos diz que o sistema fracassou e não estava atualizado. Facilmente esse sistema pode ser programado para que a cada três votos dados a mim, um seja retirado e desviado para outro candidato", reiterou.
A E-Vote, que enviou para o Equador o executivo argentino Santiago Murray, não se pronunciou sobre a quebra do contrato - que previa a apuração de 100% dos votos da eleição presidencial para três horas depois do encerramento da votação no domingo e o resultado da eleição para o Congresso até a meia-noite local do mesmo dia.
Mesmo diante do impasse na apuração, Noboa e Correa já tinham se lançado hoje à tarefa de conquistar o nada desprezível apoio dos outros três candidatos mais bem votados no primeiro turno da eleição presidencial: Gilmar Gutiérrez, irmão do ex-presidente Lucio Gutiérrez, que obtinha 16,4% dos votos; León Roldós, da Esquerda Democrática, que tinha 15,5%; e a conservadora Cynthia Viteri, dona de 9,9% dos votos.
Gutiérrez disse que seu partido apoiaria o candidato que se comprometesse a levar aos tribunais o ex-presidente Alfredo Palacio, a quem Lucio Gutiérrez acusa de tramar sua derrubada em 2003. Líderes da Esquerda Democrática dão quase como certo o apoio do partido a Correa, como forma de impedir que Noboa - o homem mais rico do Equador, que fez fortuna com a exportação de bananas - chegue ao poder. O Partido Social Cristão, de Cynthia, por seu lado, tende a declarar seu apoio a Noboa, que, durante a campanha, defendeu o rompimento de relações diplomáticas com Cuba e Venezuela.