A Comissão Européia pediu hoje aos países membros da União Européia que dêem à Espanha maior ajuda prática para conter o crescente fluxo de imigrantes africanos que chegam em barcos lotados às Ilhas Canárias. No entanto, a própria entidade não prometeu ajuda. A vice-primeira-ministra da Espanha, María Teresa Fernández De la Vega, em visita a Bruxelas, disse que a ajuda da União Européia é muito pouca e lenta. De la Vega também criticou a lentidão para aplicar as medidas comunitárias urgentes decididas em maio para conter a onda de imigração ilegal sem precedentes às Canárias.
Três embarcações com 162 pessoas a bordo chegaram ontem ao arquipélago espanhol no Atlântico, elevando a 18.944 o número de imigrantes ilegais, que entraram nas Ilhas Canárias desde o início do ano. Estimativas sobre o número de imigrantes que morreram tentando realizar a travessia variam de 590 a 3 mil.
A UE lançou neste mês uma operação para conter as embarcações com imigrantes, que partem principalmente de Cabo Verde, Mauritânia e Senegal. Mas a Espanha diz que a operação não é grande o suficiente. Segundo De la Vega, a Espanha precisa de "mais barcos, mais aviões e mais pessoal" para controlar suas fronteiras. Ela pediu aos países da UE que contribuam para a patrulha marítima, dizendo que os esforços da Espanha estão ajudando a impedir que os ilegais cheguem a outros Estados do bloco através do território espanhol.
O comissário de Imigração da UE, Franco Frattini, apoiou seu pedido, dizendo que mais Estados deveriam ajudar. Ele disse que pedirá aos ministros do Interior do bloco, em uma reunião no final de setembro na Finlândia, que ampliem a patrulha marítima nas Canárias até o fim do ano. Frattini não ofereceu ajuda prática ou fundos, dizendo que a Comissão - que deu cerca de US$ 3,9 milhões para ajudar a Agência Européia de Fronteiras (Frontex) na operação - não tem mais dinheiro para este ano. "Todos os países da UE querem ver suas fronteiras seguras, mas quando se refere a dinheiro, é outra questão", disse Elizabeth Collet, do Centro de Política Européia.
A operação nas Ilhas Canárias, coordenada pela Frontex, envolve patrulhas aéreas e marítimas das costas de Cabo Verde, Mauritânia e Senegal. Apenas um barco de Portugal ajuda no patrulhamento. Um navio enviado pela Itália quebrou e o avião prometido pela Finlândia ainda não chegou. Outros países têm contribuído com especialistas na identificação de imigrantes. Funcionários da Frontex dizem que eles são necessários, pois os imigrantes tentam evitar a repatriação ocultando sua nacionalidade. Funcionários do governo nas Ilhas Canárias estimam que mais de 5 mil imigrantes foram repatriados neste ano.
Um estudo divulgado esta semana na Espanha, pelo Banco Catalunha, indicou que sem os cerca de 3,5 milhões de imigrantes que entraram na Espanha em 10 anos, a renda per capita do país teria caído, em vez de crescer uma média de 2,6% ao ano.