Especialistas da Europa e da África discutiam, na terça-feira, um plano de combate à imigração ilegal que deve combinar medidas preventivas mais duras com uma ampliação do envio de ajuda a fim de convencer os africanos a não sair de seus países de origem.
Imagens chocantes de jovens africanos esgotados e queimados pelo sol, desembarcando na costa das ilhas Canárias (Espanha), aos milhares, neste ano, chamaram atenção para a necessidade de melhoria da cooperação internacional no combate à migração clandestina.
Acredita-se que centenas de imigrantes já morreram na arriscada travessia marítima de mais de 1.000 quilômetros realizada a partir da Mauritânia e do Senegal por traficantes de pessoas que conseguem grandes lucros transportando os africanos dispostos a tudo para ter uma vida melhor na Europa.
No início do encontro de dois dias na capital senegalesa, autoridades de mais de 50 países da África e da África discutiram na terça-feira um plano de ação conjunto que prevê a implantação de uma estratégia multinacional a respeito da migração.
O plano, elaborado originalmente pelo Marrocos, pela Espanha e pela França -- três nações que estão na linha de frente do problema da imigração -- deve ser adotado pelos ministros de países africanos e europeus que realizam uma cúpula sobre migração nos dias 10 e 11 de julho, em Rabat.
"Essa é uma iniciativa política da mais alta importância que pretende combinar a administração dos fluxos de migração e a administração do desenvolvimento", afirmou Álvaro Iranzo, autoridade do Ministério das Relações Exteriores da Espanha.
Localizada no flanco sul da Europa que dá de frente para a África, a Espanha é o alvo preferencial de milhares de africanos miseráveis da região subsaariana que tentam entrar na Europa.
O governo espanhol já lançou uma iniciativa diplomática junto aos países da costa ocidental da África para tentar limitar o fluxo de imigrantes.
Mas, apesar de as patrulhas costeiras e as medidas de vigilância serem capazes de diminuir o número de viagens ilegais, especialistas da África e da Europa dizem que as medidas de curto prazo serão inúteis se o desemprego, a pobreza e os conflitos armados responsáveis pela migração não forem enfrentados.
"Se não formos às raízes do problema, não haverá uma solução", disse Youssef Amrani, chefe da delegação marroquina.
Segundo os delegados, a novidade da iniciativa conjunta era que países destino, de passagem e de origem estavam se unindo em busca de soluções. "Isso afeta a todos nós. Precisamos de uma resposta ampla", acrescentou.
Apesar de haver consenso a respeito da necessidade de uma ação conjunta, os delegados presentes no encontro disseram prever desavenças sobre como achar um equilíbrio entre as medidas de controle e a ajuda a ser enviada aos países pobres.
"Claro que os africanos vão querer mais dinheiro. E os europeus vão tentar obter mais cooperação nas operações de controle das linhas costeiras e das fronteiras", afirmou um diplomata europeu, que não quis ter sua identidade revelada.
O projeto do plano de ação conjunta prevê melhor cooperação com a Europa, mais ajuda dos europeus e mais trocas comerciais com o continente a fim de atacar as causas primárias da migração e ajudar os africanos jovens a continuar em seus países.
Mas também prevê maior cooperação nas ações policiais e de segurança em terra, ar e mar a fim de impedir a ação dos traficantes de pessoas, traficantes esses que, segundo o ministro do Interior do Senegal, Ousmane Ngom, eram "senhores de escravos dos tempos modernos".
"Precisamos, juntos, mobilizar todos os recursos necessários para desmascará-los e para erradicá-los", afirmou Ngom no encontro.