Seis dos nove departamentos (Estados) bolivianos realizam hoje uma greve geral para protestar contra o modo como foi aprovada a proposta para a nova Constituição do país. A manifestação ocorre em meio a um aumento das tensões entre o governo do presidente Evo Morales e grupos dirigentes desses seis departamentos - Santa Cruz, Pando, Beni, Tarija, Cochabamba e Chuquisaca - que representam cerca de 80% do PIB boliviano. Ontem, os governadores dos departamentos também pediram um referendo para revogar o mandato de Evo.
A paralisação começou ontem, em Pando, e hoje se estenderia para as demais regiões. Ela também é um ato de repúdio aos episódios de violência ocorridos em Sucre, em Chuquisaca, onde três pessoas morreram em confrontos entre a polícia e manifestantes. Ontem, um policial que até então acreditava-se estar morto, reapareceu em Sucre. A morte do policial foi usada como justificativa para a polícia retirar-se da cidade. Um dos motivos do início da violência foi o tema da capital do país. Sucre é a capital constitucional da Bolívia, mas só abriga o Judiciário. La Paz conquistou o direito de abrigar as sedes do Legislativo e Executivo em 1899, após uma guerra civil.
"Essa será uma demonstração de que os departamentos estão unidos", disse o presidente do Comitê Interinstitucional de Sucre, Jaime Barrón. "Até a demanda por mais autonomia, da qual Chuquisaca costumava se afastar, está sendo analisada por aqui porque nos demos conta de que Evo só está interessado em La Paz, seu reduto político."
Para a oposição, a nova Carta não tem legitimidade. O texto foi aprovado num quartel em Sucre, porque manifestantes cercavam a sede da Constituinte. Protegidos pela polícia e sem a presença da oposição - que já havia decidido boicotar a votação -, 136 dos 255 deputados da Assembléia aprovaram em conjunto os 408 artigos.
O conteúdo da Carta até agora não foi divulgado na integra, mas sabe-se que ela permitirá a reeleição do presidente (de acordo com alguns jornais locais, indefinidamente), consagrará os recursos naturais como bens do Estado e do povo boliviano e ampliará os direitos dos povos indígenas. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo