O resultado da eleição do novo presidente norte-americano pode ter mais impacto sobre a economia baiana do que na brasileira como um todo. A avaliação é do secretário do Planejamento do Estado, Ronald Lobato. Segundo ele, os Estados Unidos são “mais importantes para a Bahia do que para o Brasil”, já que, no tocante ao comércio exterior, o mercado norte-americano é o principal destino das exportações brasileiras, mas primordialmente das baianas. “O Sul e o Sudeste (do Brasil) comercializam produtos industrializados, que têm os EUA como o maior comprador, mas têm vivido uma expansão para outras regiões como a Ásia e o Mercosul. Já a Bahia tem os insumos petroquímicos e os grãos como principais produtos de exportação, com o mercado dos Estados Unidos sendo o grande alvo”, disse Lobato.
A avaliação do secretário se baseia no fato de os partidos dos dois candidatos a presidente dos EUA terem, historicamente, posições distintas em relação às relações comerciais com outros países. Como explica Raimundo Torres, professor do curso de Negócios Internacionais da Unifacs, os republicanos sempre foram mais favoráveis às aberturas comerciais com outros países, enquanto os democratas são mais protecionistas, ou seja, tendem a favorecer as atividades econômicas internas, reduzindo e dificultando a importação e a concorrência estrangeira. Para Torres, “diante do histórico, McCain seria melhor para o Brasil”.
O consultor do Núcleo de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria, com sede em São Paulo, Sidney Ferreira Leite, afirma que analisar os candidatos apenas pela ótica do protecionismo é reduzir a questão.
COOPERAÇÃO – “É preciso ter em mente a crise financeira, identificar quem terá condições de reverter a situação, que é fruto de oito anos de irresponsabilidade de George W. Bush, um presidente que sempre teve a disputa pelo petróleo como horizonte e se omitiu sobre problemas internos”, afirmou Leite, acrescentando que, apesar de nenhum candidato ser muito explícito ao falar de subsídios à produção agrícola, o democrata tem se mostrado mais empenhado em ampliar a matriz energética. “Acredito que, com ele (Obama), haverá cooperação tecnológica entre o Brasil e os EUA sobre energias alternativas”.
“Diante da crise, os EUA se voltarão para a economia interna. Na verdade, a solução da questão agrícola passa pela retomada das negociações no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Não se pode esquecer que a União Européia e sua política agrícola devem também ser alvo de negociação”, afirmou Carlos Milani, professor de Relações Internacionais da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia.
O professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, de São Paulo, Gunter Rudzit, lembra que não só o presidente americano, mas também o parlamento, deve ser observado. “Nos seis primeiros anos do governo Bush, a maioria do Congresso americano era republicana e mesmo assim o protecionismo se ampliou”, disse.