O partido do presidente boliviano Evo Morales, Movimento Ao Socialismo (MAS), quer incluir a reeleição presidencial na nova Constituição da Bolívia, que começa a ser discutida em julho. Pela legislação atual, o mandato dura cinco anos e não é prorrogável. A proposta, no entanto, enfrenta forte resistência de partidos de oposição, que vêem na idéia uma tentativa de garantir ao grupo de Morales dez anos de poder na Bolívia. Estão preocupados com recentes declarações, feitas por parlamentares do MAS, de que um mandato é insuficiente para pôr em prática todas as mudanças em curso no país.
"A verdadeira intenção por trás da convocação da Constituinte é a reeleição do presidente. O MAS não apresentou mais nenhuma proposta", ataca Antônio Aruquipa, porta-voz e candidato à Constituinte pelo Poder Democrático Social (Podemos), principal partido de oposição ao governo Morales. Ele acusa o MAS de seguir uma cartilha venezuelana para se perpetuar no poder, lembrando que o presidente Hugo Chávez também remodelou a Constituição da Venezuela depois de assumir. "Há muitos exemplos na história de governantes que foram eleitos democraticamente, mas depois se transformaram em ditadores", concluiu.
O tom duro das críticas ao projeto de reeleição motivou uma defesa pública do vice-presidente Álvaro García-Linera, que negou ontem que tal proposta venha a ser apresentada por seu partido. Em entrevista à AE, porém, o líder do MAS na Câmara dos Deputados, César Navarro, voltou a defender hoje que a Constituinte discuta a reeleição do presidente. Ele sustenta, no entanto, que a proposta não partirá do MAS, mas de organizações sindicais e populares que sustentam a agremiação. "A Constituinte será pautada pelo povo boliviano e, certamente, vai tratar deste assunto", afirmou.
O governo Morales trabalha na elaboração de um Plano Nacional de Desenvolvimento, que tem como premissa básica desmontar o "modelo neoliberal" vigente no país desde 1985. O programa terá metas de crescimento e emprego para cinco anos, mas prevê que outro modelo econômico só será implantado em 20 anos.
Partidários do presidente não se cansam de dizer que apenas Morales teria condições de cumprir tais metas. O presidente boliviano experimenta hoje níveis históricos de popularidade entre os eleitores, fato que, segundo as análises do partido, o garantem respaldo para promover as mudanças.