A reforma social com fins econômicos proposta pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, contemplará o cinema com a permissão para salas de exibição sejam abertas em 2018. A medida anunciada nesta segunda-feira, 11, pelo Ministério da Cultura do governo, com base em Riade, a capital e a maior cidade saudita, coloca fim um período de 35 anos de proibição da exibição de produções cinematográficas no país, desde que – em 1980 – os cinemas foram fechados em meio ao ultraconservadorismo que atingiu esta que é uma das nações mais ricas do Oriente Médio.
O anúncio oficializou uma resolução de concessões de licenças a serviços comerciais de cultura, o que permite às autoridades sauditas a iniciar o processo de exportação de salas de cinema. Também de acordo com a imprensa estrangeira, os primeiros cinemas já estarão prontos para abrir ao público em março de 2018.
A iniciativa é a segunda ação reformista no âmbito da cultura em menos de seis meses comandada pelo príncipe Salman, que busca se consolidar no poder. No último mês de outubro, o governo deu fim à proibição de concertos e espetáculos – naquele mês, uma televisão estatal da Arábia Saudita transmitiu um recital da egípcia Um Kulzum, falecida em 1975 e considerada como a diva da canção árabe. Em setembro, o príncipe extinguiu um decreto que proibia a mulher conduzir automóveis.
As reformas, no entanto, ainda enfrentam resistência no reino saudita, principalmente do alto escalão religioso do país e que protesta publicamente contra as medidas. Para o mufti (uma espécie de acadêmico islâmico) da Arábia Saudita, o cinema pode ser "fonte de depravação" caso o conteúdo dos filmes contemple temas libertinos, obscenos, imorais e ateístas para mudar a nossa cultura".
Durante o comunicado sobre resolução de concessões de licenças, o governo ainda destacou que a abertura de cinemas deverá bonificar os cofres públicos com mais de 90 bilhões de riais sauditas (cerca de R$ 79 bilhões) e criar aproximadamente 30 mil empregos até 2030 numa economia que, segundo planeja, busca mercados além do setor do petróleo. A estimativa da equipe ministerial do príncipe Salman é que, até lá, a Arábia Saudita tenha ao menos 300 espaços para exibição de filmes.
Da Vinci
O príncipe herdeiro do país, Mohamed bin Salman, foi apontado semana passada pelo jornal americano ‘The Washington Post’ como o comprador do quadro ‘Salvador Mundi’, pintado por Leonardo Da Vinci. A obra, a mais cara já leiloada no mundo no último mês de novembro pelo valor de aproximadamente R$ 1,5 bilhão, retrata Jesus Cristo em estilo renascentista com uma bola de cristão na mão esquerda e, a direita, com dedos cruzados e levantados.
Segundo a imprensa internacional, ‘Salvador Mundi’ deve ser exposto em breve na filial do Museu do Louvre em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, um dos principais aliados da Arábia Saudita no Oriente Médio.
Para a história da arte, a obra foi uma encomenda à Da Vinci do rei Luís XII da França, por volta de 1500.