Após a ameaça do ministro do Interior da Alemanha Horst Seehofer em se demitir do cargo e retirar o partido qual é líder – o conservador União Social-Cristã – do governo, a chanceler Angela Merkel cedeu a pressão da sua base e chegou a um acordo sobre a questão imigratória. O anúncio aconteceu no início da noite desta segunda-feira, 2, em coletiva de imprensa na capital Berlim após um dia inteiro de reuniões entre os dois líderes.
Com o acordo entre Merkel e Seehofer, a Alemanha deve criar campus de refugiados em “zonas autônomas” nas fronteiras da União Europeia. “Foi uma luta”, disse a chanceler durante o anúncio que enterra o temido fim da aliança entre seu partido, o União Democrata-Cristã, e o do ministro, a União Social-Cristã, que que já dura cerca de 70 anos, com exceção para uma breve separação registada em 1976, além espantar o fantasma de eleições antecipadas no país.
Além de dar novo fôlego ao governo alemão, o acordo mantém Seehofer tanto à frente do ministério como líder do partido, que tem base na Bavária. “Após intensas discussões entre os partidos, chegamos a um acordo sobre como podemos, no futuro, evitar a imigração ilegal na fronteira entre a Alemanha e a Áustria", ele disse.
Após ter colocado no último domingo o cargo de Ministro do Interior da Alemanha à disposição da chanceler Angela Merkel, Horst Seehofer voltou atrás nesta segunda. À tarde, disse também que não seria “despedido pela chanceler que só é chanceler graças a mim".
Sobre a criação dos campi, também rotulados pelos líderes alemães como “centro de passagem”, explicaram que lá os imigrantes ficarão até que se decidam quem poderá entrar na Alemanha e quem deve ser deportado, de volta à terra natal de onde, por diversos motivos, querem distância. Estas condições, eles ressaltam, servem para requerentes de asilo que já estão registados em outro país da União Europeia.
Ficou acordado, ainda, que o acordo entre a União Democrata-Cristã e a União Social-Cristã deve ter também o peso do voto dos sociais-democratas do SPD, o maior parceiro da coligação governista. No entanto, o SPD ainda não se pronunciou oficialmente sobre a tratativa.
De acordo com a imprensa alemã, os partidos de oposição são críticos ao tempo em que o governo se debruça sobre o tema da imigração, enquanto se esquiva de resolver problemas como a criação de empregos.
Na manhã desta segunda, o já descartado pedido de demissão de Seehofer causou furor na política e na imprensa alemã. Membros do União Social-Cristã alegaram que o ministro romperia com o governo por “não garantir o apoio necessário”. Para a revista Der Spiegel, uma das mais influentes publicações do país, Seehofer perderia a credibilidade se não selassem um acordo.
A análise do jornal Süddeutsche Zeitung foi similar. Analistas do periódico escreveram neste fim de semana que os dias de Seehofer como líder do partido estariam contados e que seu “objetivo político”, em casa de negativa do acordo, seria também promover a queda de Merkel.
Ainda nesta segunda, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, líder do partido SPD, tentou colocar panos quentes no desentendimento entre a chanceler e Seehofer. Disse à rede de televisão Deutsche Welle que o acirramento das discussões desgasta o governo. “A forma como este debate está a ser conduzido é prejudicial, não só para a imagem da Alemanha, mas também ao governo”.