Maria denunciou o caso na Polícia de Estrangeiro de Munique
A empregada doméstica Maria José Maia Simões, 50 anos, passou oito meses trabalhando mais de 16 horas por dia em uma mansão na Alemanha por R$ 2 mil mensais.
Quando ia ser enviada de volta ao Brasil sem parte dos pagamentos, ela fugiu do aeroporto e quase morreu de frio ao passar quatro horas sob a neve.
Apesar de não falar alemão, Maria conseguiu ajuda e chegou à imigração.
Há mais de um ano Maria voltou à terra natal e tenta processar os ex-patrões e receber pelo trabalho feito conforme as leis alemãs. No entanto, um ano após pedir apoio ao Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Estado da Bahia (Netp), ela não vê avanços e não sabe se conseguirá iniciar o processo estando no Brasil.
Ela pretende voltar à Alemanha, pois lá o governo concede vaga em um abrigo, bolsa de 300 euros para despesas pessoais e o visto permanente até o final do processo. Porém Maria esbarra na dificuldade financeira, pois a passagem aérea custa em média US$ 2 mil (R$ 4.720) e para entrar no país é necessário ter 500 euros (R$ 1.640), um total de R$ 6.360 em despesas.
Maria José deu o primeiro passo na Alemanha para denunciar a exploração ao prestar depoimento durante quatro horas na Polícia de Estrangeiro da cidade de Munique.
Segundo a trabalhadora doméstica, o delegado Tim Rohmann informou que ela teria de prestar queixa em uma delegacia comum para dar início a uma investigação e abrir o processo sobre o caso.
"O delegado me disse que, para a Alemanha, a minha situação era de trabalho escravo porque eu desempenhava múltiplas funções e não ganhava por cada uma delas. Além de não possuir contrato de trabalho e estar ilegal no país", relata.
O superintendente de direitos humanos da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH), Ailton Ferreira, disse que o caso de Maria José foi denunciado ao Ministério Público Federal (MPF) e que ela é acompanhada por um advogado e uma psicóloga.
Contudo, ele acha difícil processar os ex-patrões dela daqui do Brasil. "Vou fazer uma reunião com o comitê de enfrentamento ao tráfico de pessoas e colocar em discussão a questão de dona Maria. Veremos a possibilidade de bancar a viagem dela", afirma Ailton Ferreira.
Patrões
Maria José trabalhou de fevereiro a outubro de 2012 na casa de Ulf Harring e Suzana Vega Harring, na cidade de Starnberg. Ulf é um executivo da Electrolux. Suzana é carioca formada em medicina e é pesquisadora da empresa farmacêutica Roche.