O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, dará posse na terça-feira à sua equipe de segundo escalão e definirá as regras que deverão prevalecer no trabalho diplomático ao longo do novo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar de manter o polêmico embaixador Samuel Pinheiro Guimarães na Secretaria-Geral do Itamaraty, Amorim decidiu renovar três postos-chave com a designação de nomes experientes, mas sem se ater ao grau do escolhido na carreira diplomática.
Trata-se de uma versão da tática que vem implementando ao designar novos comandantes de postos no exterior. O exemplo mais claro dessa linha renovadora será a posse do ministro Roberto Azevedo como interino na Subsecretaria-Geral de Assuntos Econômicos e Tecnológicos do Itamaraty (SGET). A área conduz, entre outras, as negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio, tema prioritário da política exterior brasileira. Na condição de diretor do Departamento Econômico, Azevedo vinha pilotando a SGET desde que ficou vaga, em meados do ano passado.
A posição de subsecretário, entretanto, é reservada a embaixadores - o posto mais elevado da carreira, ao qual Azevedo deve ser promovido em junho. Essa indicação teve o aval dos principais críticos da atual condução do Itamaraty, dentro e fora da diplomacia. Engenheiro elétrico, Azevedo notabilizou-se como um dos mais preparados quadros do Itamaraty em negociações internacionais. Da mesma maneira foram recebidos os nomes que comandarão a área política do Itamaraty.
Para a Subsecretaria-Geral de Assuntos Políticos 1, que trata das questões multilaterais e do relacionamento do País com as economias desenvolvidas, Amorim designou o embaixador Everton Vargas, atual chefe de gabinete de Pinheiro Guimarães. Vargas teve papel crucial na montagem da operação de resgate de cerca de 3 mil brasileiros e libaneses que viviam no Líbano, em julho e agosto de 2006, quando o país se viu em conflitos com Israel.
Em suas mãos estará um dos mais ambicionados projetos da atual política externa: a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com a inclusão do Brasil como membro permanente. Vargas substituirá o embaixador Antônio Patriota, escalado para conduzir a Embaixada do Brasil em Washington.
A Subsecretaria-Geral de Assuntos Políticos 2, que conduz a delicada teia de relações do País com o resto do mundo em desenvolvimento, a chamada Cooperação Sul-Sul, recairá no embaixador Roberto Jaguaribe, que se manteve distante do Itamaraty no primeiro mandato de Lula - foi secretário de Tecnologia Industrial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e, desde 2004, preside o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual.
Jaguaribe substitui o embaixador Pedro Motta, designado para Israel. Depois de pedir engajamento aos diplomatas brasileiros, em julho de 2003, Amorim quer iniciar seu novo período no governo Lula com o emblema da renovação. Para si mesmo optou pela aposentadoria da carreira diplomática, que o tornará mais autônomo em relação à corporação. Mas em suas designações o chanceler escolheu a fórmula da ousadia, respaldado pelo presidente, que decidiu acabar com as nomeações de políticos para as embaixadas.
Na semana passada, o Itamaraty confirmou a indicação de Maria Luiza Viotti para a missão na ONU, em Nova York, seu primeiro posto no exterior como embaixadora. A indicação de embaixadores juniores para postos relevantes fora prenunciada com a nomeação de Mauro Vieira para a Embaixada na Argentina, em 2004, e de Patriota, no final de 2006. Para alguns críticos, Amorim tenta concentrar em suas mãos atitudes e decisões que embaixadores seniores não hesitariam em tomar.